
Sentimento de Culpa
Novo trabalho da diretora Nicole Holofcener, Sentimento de Culpa, conta com problemas sociais que fazem espectador se questionar
por Rafael Sandim - JRM 7B
Valores morais e éticos são extremamente pessoais e nem todos os diretores têm o interesse em falar sobre o tema. Alguns não fazem para evitar polêmica e outros por simples medo. Porém, entre o time dos diretores corajosos e aqueles superficiais, existem os que têm o dom de poder fazer uma crítica sutil e cômica sobre temas delicados. Isso pode ser visto no último trabalho de Nicole Holofcener, o drama Sentimento de Culpa, que possui elementos complexos, importantes socialmente, e que são explicados delicadamente.
Para explicar os problema sociais a cineasta escolheu duas famílias vizinhas. Uma delas, composta por um casal, Kate e Alex, e sua filha adolescente, Abby, não vê a hora de conseguir o apartamento ao lado, que é de uma senhora de 95 anos prestes a morrer. Já a outra é composta pela senhora. Andra, suas duas netas, Rebecca e Mary, que são completamentes diferentes uma da outra. E não são só elas que não se parecem, todos os personagens têm suas complexidades e são elas que criam os dilemas da trama.
Kate é uma comerciante em crise existencial que não aceita o fato de vender móveis usados por pessoas mortas. Ela consegue-os por um preço barato e vende pelo dobro. O lucro no negócio faz a mãe de família se questionar sobre o que é certo e errado. Para sentir que está pagando por "judiar" de seus clientes, ela dá esmolas para moradores de rua. Ela não pensa duas vezes antes de oferecer comida ou valores como 20 doláres para mendigos. Sua filha, Abby, indignada, não aceita o comportamento da mãe. Para a adolescente, uma calça jeans acima de 200 doláres é capaz de resolver todas as inseguranças vividas na idade. Abby decide castigar a mãe com grosseria. Para completar a instabilidade na família, Alex é um pai que demonstra amor pela filha quando entrega um presente e mostra entender cada vez menos o que a mulher dele sente. Sem saber como ajudá-la, ele encontra refúgio para a sua insatisfação no casamento com Mary através da neta da senhora que mora ao lado.
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Crítica de Sentimento de Culpa by Lorena Tárcia
Com o cenário já pronto, o longa poderia apenas entrelaçar os personagens e não desenvolve-los. E, de certa forma, pode parecer que é isso que ele faz. Cabe ao espectador descobrir a profundidade de uma cena simples, como quando uma personagem passa várias vezes por uma loja à procura do que falta nela mesma ou até na hora me que Kate se esconde em um banheiro após encarar todos os seus defeitos através da deficiência dos outros. Cenas simples e profundas, em que precisamos nos colocar no lugar dos personagens para entendê-los, até daqueles que não temos tanta simpatia.
Em Sentimento de Culpa, até mesmo Mary, que não tem nada de boazinha e não esconde o ódio pela avó, mostra-se humana no decorrer da obra. O longa de Holofcener possui essa semelhança com outro trabalho da cineasta, Amigas com Dinheiro, lançado em 2006. Conta com personagens que são apresentados como vilões e ganham sentimentos com o passar do filme. No final, alguns deles conquistam nossa simpatia. E é esse cuidado com suas criações, Kate, Alex, Rebbeca, Mary, que torna gritarias e choros, são momentos simples em que deparamos com as complexidades de situações cotidianas.
Não é só Holofcener que acerta. O elenco secundário, com Amanda Peet, Oliver Platt, Rebecca Hall, faz um bom trabalho e consegue manter o filme estável quando aparecem. Porém, o show fica por conta de Catherine Keener. Já no lugar de queridinha da cineasta - Keener esteve em Amigas com Dinheiro - a atriz volta com o ótimo desempre que sempre apresenta. Até em pequenas participações, como em A Intérprete, a atriz mostra carisma e dedicação. A personagem de Keener é responsável pela retratação dos problemas sociais, que a afetam e criam questionamentos. Os outros vivem dilemas superficiais, Mary quer ser perfeita esteticamente, Rebbeca quer namorar alguém interessante, Alex quer diversão fora do casamento, mas Kate está acima de todos. Os questionamentos de Kate tornam Sentimento de Culpa uma obra complexa e imperdível para aqueles que, assim como ela, tem sentimento de culpa quando tem lucro sobre alguém ou não ajuda o próximo.
Curiosidades
- Essa foi a quarta parceria entre Nicole Holofcener e a atriz Catherine Keener, a protagonista. Elas trabaralham em Walking and Talking, em 1996; Encontro de Irmãs, em 2001; e Amigas com Dinheiro, em 2006.
- Um dos cenários usados no longa é o apartamento de uma amiga de Nicole Holofcener, a diretora do filme.
- Em uma cena, a protagonista, Kate, lê o livro Assassionation Vacation, de Sarah Vowell. A autoria verdadeira da obra tem uma participação no filme. Ela aparece como uma consumidora em um shopping center.
- Catherine Keener trabalhou para o audio book do livro Assassination Vacation.
Ficha técnica:
Diretor: Nicole Holofcener
Elenco: Catherine Keener, Amanda Peet, Rebecca Hall, Oliver Platt
Anthony Bregman
Roteiro: Nicole Holofcener
Trilha Sonora: Marcelo Zarvos
Duração: 90 min
Ano: 2010
País: Estados Unidos
Gênero: Comédia Dramática
Cor: Colorido
Distribuidora: Sony Pictures Classics
Estúdio: Sony Pictures Classics, Likely Story, Feelin' Guilty
Classificação: 12 anos
Produção: Anthony Bregman
Saiba mais:
Página do longa no Rotten Tomatoes
Sentimento de Culpa no Festival de Sundance 2010
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