
Sâmbero
Primeiro CD da carreira de Mestre Jonas promove releitura de afro-sambas e apresenta o Aglomerado da Serra como palco principal de sua criação
Lucas Alvarenga - JRM7B
fernandesalvarenga@gmail.com
"Segura o touro, Cambina/ Amarra no mourão". Um ponto de preta-velha abre o Sâmbero, de Mestre Jonas, seu disco de estreia. Ao resgatar Mãe Cambina, entidade Umbanda, espírito de uma negra do tempo das senzalas, o compositor nascido e criado no Aglomerado da Serra apresenta seu "primogênito". Uma auto-análise sobre a trajetória de uma das novas expressões da música negra em Belo Horizonte.
Sem a intenção de se limitar ao samba, gênero que o persegue, Mestre Jonas lança uma obra viril sob o ponto de vista composicional e melódico, além de religiosa e afro-descendente. Uma releitura regional do LP Afro-Sambas (1966), de Baden Powell e Vinícius de Moraes, inspirada em outro disco, Sambas de Roda e Candomblés da Bahia (1962), do baiano Gilberto Gil.
A expressão firme de um negro a recordar suas origens dá o tom das 11 faixas do disco e se apresenta logo na capa, onde uma gravura resgata o estilo do alemão Rugendas de registrar os fatos do Brasil Colônia. Do tocador, o som confirma as suspeitas. Zuelas, maracatus, congados, folias, baiões e sambas.
Aliás, Sâmbero sugere uma negativa ao gênero boêmio da urbe carioca. Para os paulistas, o título é atribuído a “quem está no samba”. Uma curiosa contradição ao termo. Tanto por Jonas ter sua carreira fundada no samba, quanto pelo fato de o álbum apresentar batuques intimistas, por influencia de sua levada jazzística. Algo próximo de canções como Canto de Ossanha, do LP de Vinícius e Baden.
Movido pelas histórias do Aglomerado da Serra, Mestre Jonas promove Bacuri Ri - Entre a cruz e o calibre. Uma narrativa sobre um menino que, apesar de valente, morre de forma vil na Sexta-feira da Paixão, como dito no verso “Foi mais um acerto de contas”.
Elemento inseparável à história de Minas Gerais, a religiosidade sustenta as poesias de Sambêro. Cantadas, em sua maioria, com intenso jogo percussivo, composto por tamborins, agogôs, berimbau, moringa e caixas de folia. Lembranças dos cânticos vindos das senzalas, que tanto incomodavam os senhores cristãos.
Rodeado de amigos, dentre eles Makely Ka, Dudu Nicácio, João Antunes e Tadeu Morais, Mestre Jonas espera se afirmar de vez entre uma geração de talentos que compõem a atual cena musical popular mineira. Seja por suas letras, envoltas de realidade, ginga e fé. Seja pela variação rítmica e a escala de tons imprimida pelas participações de Sérgio Pererê, Miguel dos Anjos, Sílvia Gommes, Leonora Weissmann, Carolina Araújo e Titane.
Ouça a crítica sobre o CD abaixo:
FICHA TÉCNICA:
País: Brasil
Ano: 2010
Duração: 54’10’’
Produção e Direção Musical: Mestre Jonas, Rafael Martini, João Antunes e Pedro Santana
Arranjos: Rafael Martini, João Antunes, Pedro Santana e Mateus Bahiense
Mixagem: Estúdio Via Sonora por Demerval Filho e João Antunes
Assistência: Rafael Martini e Mestre Jonas
Pinturas: Leonora Weissmann
Selo: + Brasil Publishing
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Questionário
Sambêro renova a música popular mineira?
Não, por resgatar os afro-sambas de Powell e Vinícius (5)
Em parte, por trazer novos elementos sonoros a estes sambas (4)
Sim, por agregar aos afro-sambas forte conteúdo regional e religioso (7)
Total de votos: 16