Quem não pode ver?
Mesmo com muita força de vontade, a aluna Ana Borges é exemplo de que o ensino superior precisa evoluir bastante para atender os deficientes visuais
Por Lucas Oliveira, Nathália Faria, Gustavo Pimenta, Daniel Oliveira
Já foi o tempo em que ter alguma deficiência representava não poder ter uma vida trivial, com hábitos corriqueiros. A informação, a tecnologia e principalmente a quebra de muitos preconceitos têm feito com que, cada vez mais, a sociedade perceba a si própria respeitando suas naturais diferenças. Porém, algumas realidades ainda impedem a democratização do acesso ao conhecimento por parte destes indivíduos.
Assim é com Ana Borges, deficiente visual, aluna do Uni-BH, futura jornalista, figura carimbada nos corredores do centro universitário, que dá exemplo de força de vontade e autonomia. Ana está no 7º período do curso e definitivamente já conquistou o próprio espaço na Academia. Contudo, a jovem – que está no Uni desde 2008 – ainda é marcada pela inexistência de estruturas técnicas ajustadas à sua deficiência, e pela ignorância de pessoas que possuem o dom da visão, mas verdadeiramente não enxergam.
Mesmo com entusiasmo e motivação em sobra, Ana Borges encontra barreiras que já poderiam ter sido demolidas se a instituição se voltasse para ela, e para os outros que frequentam ou já passaram pelo Uni-BH. “Eu não sou excluída, os professores e colegas me ajudam, mas não tem material em braille e o programa que faz o computador falar aqui do Uni é muito precário. Antes de mim já tinham formado dois jornalistas aqui, então eu não falo só de mim, estou falando das dificuldades que os cegos encontraram aqui, de um modo geral”, pondera.
Apesar da cegueira, Ana é bastante despojada e, tendo na bagagem nada menos que dezesseis anos de teatro, tem um convívio excelente com os outros alunos do Uni-BH. Mas ela conta que já foi vítima de preconceito em situações desagradáveis, como quando foi recusada na hora da inscrição de um curso. “A secretária, que não tinha nada com a produção do curso, falou que eu não podia participar porque não tinha profissionais habilitados para lidar com o meu caso. E teve um outro lugar, em outro teatro, que não tinha espaço adaptado para isso. Sendo que eu sei me virar do meu jeito em qualquer espaço”, afirma.
Segundo o Censo da Educação Superior de 2008, na educação básica, os 68 mil deficientes visuais representam 0,13% dos 52,6 milhões de alunos matriculados em escolas públicas e particulares do país. Já no ensino superior, o contingente de 5,2 mil deficientes visuais simboliza somente 0,09% dos 5,8 milhões de universitários. Porém, um dado interessante é que, nas universidades, a presença de estudantes cegos ou com baixa visão aumentou 475% de 2003 para 2008.
Por tudo isso é que Ana, e muitos outros, não apenas do Uni-BH, precisam ser melhor percebidos, facilitando o acesso e permitindo que tenham os direitos básicos de uma vida comum. Não pra pensar em uma universidade, espaço contemporâneo de discussão e atualização de idéias, manter firmes as bases no preconceito e conservadorismo ultrapassados.
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