
Foo Fighters: entre o futuro e o passado
Depois de tanto sucesso, o Foo Fighters procura renovação e inovação justamente no passado que tenta esquecer. E a fórmula dá muito certo.
Por Isadora Soares e Rafael Soal – JRN7
Sete discos de estúdio, milhões de cópias vendidas, show para 80 mil pessoas num dos maiores estádios da Inglaterra, dois Grammys de melhor álbum de rock, sucesso de público e crítica. Esses são números de encher os olhos de qualquer banda, a ponto de perguntar: “O que mais podemos fazer depois de tudo isso?” Há dois anos atrás, o vocalista e guitarrista do Foo Fighters, Dave Grohl fez essa pergunta para sua banda, dona de todos esses números. A reposta foi: vamos voltar ao passado.
Isso mesmo. O futuro do Foo Fighters foi assegurado com um retorno às origens, mas usando as tecnologias disponíveis na Internet atualmente para criar tamanho reboliço a ponto de fazer um disco que não havia nem terminado de ser gravado em sucesso. Para a empreitada, Dave Grohl foi saudosista ao extremo. Para produzir o disco, chamou um velho amigo, Butch Vig, responsável por Nevermind, clássico dos anos 90 de sua antiga banda, o Nirvana. Para a gravação, desfez de todos os recursos modernos dos estúdios e preferiu os cabos, os amplificadores e os rolos de fita. A dificuldade ia ser muito maior, mas o resultado soaria diferente de tudo que o Foo Fighters fez até hoje. Como participação especial, chamou o ex-baixista do Nirvana, Krist Novoselic, para tocar baixo em uma das músicas do disco. E o local para rolar o som não poderia ser mais lacônico: a garagem de sua casa. Com tantos ingredientes especiais, os fãs e a crítica ficaram loucos para verem o resultado. E ele não decepcionou nem um pouco.
Antes do lançamento de Wasting Light – nome escolhido pelo próprio Dave –, o Foo Fighetrs usou e abusou da Internet. Postava fotos das gravações no Twitter, davam depoimentos à sites sobre o andamento do disco, divulgaram clipes das músicas no Youtube antes mesmo do disco chegar às lojas, além de tocar o álbum na íntegra na rede. E, surpreendendo ainda mais, vazaram o álbum para audição em sites especializados 12 dias antes do lançamento. Um show de criatividade em meio a um mercado fonográfico em crise. E para coroar esses dezessete anos de história, a trupe recrutou o diretor vencedor do Oscar James Moll para retratar toda essa trajetória em um documentário, Foo Fighters - Back And Forth, que chega ao Brasil em DVD a partir de junho.
Túnel do Tempo
Back And Forth, antes de tudo, é inspirador e cumpre muito bem a sua missão. Cada passo importante da banda foi retratado através de gravações caseiras, clipes, entrevistas e fotos raras. O começo difícil – mesmo Dave Grohl sendo o baterista do Nirvana, o começo foi difícil – o preconceito da crítica especializada em cima de Grohl, alegando ser o Foo Fighters uma sombra do Nirvana, as dificuldades em encontrar o time perfeito para a banda, tudo isso está lá.
Outro ponto interessante é o respeito à cronologia. Mesmo os depoimentos dos envolvidos na carreira do Foo Fighters são inseridos de forma precisa. Cada integrante (ou ex-integrante) entra em cena a partir do momento em que se envolvem na história da banda. Os depoimentos dos ex-Foo Fighters também merecem destaque. São colocados à mostra todo o ressentimento por terem sido cortados da banda, mas sem nenhum juízo de valor, deixando a cargo do espectador decidir quem foi o certo ou foi o errado na decisão. Nesse ponto é revelada também uma faceta de Dave Grohl, considerado um dos caras mais bacanas do meio musical, completamente desconhecida do público: a de um músico perfeccionista e ditador. Após ter vivido tanto tempo atrás da bateria da banda de Kurt Cobain, ele precisa afirmar todo tempo no documentário, mesmo que de forma subliminar, que as decisões são tomadas por ele. A banda é criação dele. E é por causa de sua “mão de ferro” que o Foo Fighters está no atual patamar. Mas nada disso tira o carisma do vocalista, que mesmo através das lentes de um diretor, consegue nos emocionar e cativar em momentos da película.
Foo Fighters – Back And Forth é um documentário essencial para os fas, e mais ainda, para os amantes de música. É a narração sincera de uma banda que lutou todos esses anos para ocupar seu prórpio espaço e se livrar da sombra de um passado triste, glorioso, mas que não era seu.
E fica a máxima para os psicólogos de plantão se vangloriarem: o Foo Fighters enfim se libertou das amarras do passado justamente quando resolveu ir de encontro a ele.
Confira a trajetória da banda segundo o documentário: