Fuga das convenções

18-10-2010 19:53


 

“Homens que não amavam as mulheres” é surpreendente e denso para mostrar, sob diferentes ângulos, as facetas do relacionamento homem-mulher.

 

Ana Carolina Dias (7º período UNI-BH)

acarolinadias@uol.com.br

 

A adaptação do livro sueco “Man som hatar kvinnor” para o cinema, vem para o Brasil com o nome “Os homens que não amavam as mulheres”. O filme homônimo, à primeira vista, parece ser mais um suspense hollywoodiano. Mas o diretor dinamarquês Niels Arden Ople constrói personagens cativantes e explora o tema de forma inteligente durante o enredo do longa metragem.

 

Surpresa é a palavra que poderia resumir “Os homens que não amavam as mulheres”. Mistério, suspense e ficção atualmente tem sido, de alguma forma, banalizados e colocados dentro de padrões. A forma como tudo isso se encaixa e prende o espectador por meio de sentimentos distintos é digna de destaque.

 

Depois de ficar em evidência na mídia por denunciar um caso de desvio de verbas, o jornalista Mikael Blomqvist (Michael Nyqvis) é chamado para investigar o paradeiro de Harriet Vanger, desaparecida desde 1966. Ele aceita e vai para uma ilha onde conhece a pitoresca família Vanger, cujos membros são suspeitos pelo desaparecimento da jovem.

 

No meio de suas pesquisas, o caminho de Blomqvist se cruza com o da hacker Lisbeth Salander (Noomi Rapace) que foi contratada para segui-lo e saber se ele realmente teria condições de resolver o caso. Os dois começam então a descobrir assassinatos relacionados a passagens bíblicas e a investigação segue até alcançar o tema central do filme, como o relacionamento homem-mulher pode mudar o rumo de vidas.

 

Aqueles de estômago fraco devem pensar duas vezes antes de encarar as duas horas e trinta e dois minutos com cenas fortes e densas. A personagem principal tem problemas de agressividade e por isso tem que ser fiscalizada por um curador. O tutor que deixa a personagem tomar conta da própria vida é substituído por um homem que faz chantagem em troca de favores sexuais. O que se segue, para a construção da personagem é uma cena de estupro seguida pela vingança de Lisbeth, que espanca o homem que cometeu o abuso contra ela.

 

Aos olhos de um espectador menos atento, a princípio, esse tipo de cena parece desnecessária e incômoda. Mas dessa forma foi alcançada a intenção de incomodar ao mostrar a superioridade que alguns homens pensam ter sobre as mulheres por meio do ato sexual.

 

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Criticaoshomens by Lorena Tárcia

 

Outro detalhe que parece ser confuso é o aparente pouco destaque inicial para a personagem principal. A tradução do título para a língua inglesa é “The girl with the dragon tattoo”, o que leva a crer em uma importância extrema de Lisbeth na história.

 

O maior trunfo do filme é inserir a personagem lentamente, até por uma questão da estética um pouco “agressiva”, visualmente falando e não fazer com que ela se tornasse uma espécie de “mocinha” com a qual estamos acostumados a lidar em histórias de investigação. Durante cada nova situação, Lisbeth mostra novas características que a afastam de uma heroína convencional.

 

Outra fuga clara dos padrões está na fusão das histórias de Lisbeth e Blomqvist. O encontro e relacionamento dos dois servem para mostrar uma forma de envolvimento diferente entre pessoas do sexo oposto, sem os romances clichês que muitas vezes servem de válvula de escape para a tensão do assunto tratado no filme ou ainda de atrativo para o público.

 

Adicione a essa experiência que causa estranhamento, o fato das filmagens terem sido feitas na Suécia e mostrarem belíssimos ambientes totalmente diferentes dos quais estamos acostumados a ver. Além disso, ouvir a distinta sonoridade da língua sueca pode também ser considerado parte do clima instigante dessa produção cinematográfica.

 

Para os interessados no assunto e que gostarem do filme, as cenas finais deixam a entender que acontecerá uma continuação. Isso também pode ser esperado, uma vez que “Millenium” é uma trilogia e deixa aberto espaço para adaptações dos outros dois livros. O importante é saber se haverá aceitação do público para uma produção estrangeira.

 

Já circulam pela internet notícias de uma refilmagem norte-americana para “Os homens que não amam as mulheres” com a probabilidade de corte para as cenas mais pesadas. A ideia me parece o mesmo que tentar mostrar o horizonte a um cego ou tocar música para um surdo.

 

Curiosidades

 

- Toda a trilha sonora do filme foi gravada em apenas 4 dias. De acordo com o compostiro Jacob Groth, as páginas com as partituras da orquestra pesavam 33 quilos.

 

- O programa de computador usado pela personagem Lisbeth Salander para hackear a partir de seu notebook é chamado ASPHYXIA, palavra grega que para se referir a "sufocamento".

 

- Em entrevista para o programa "BBC Breakfast", a atriz principal, Noomi Rapace declarou que se preparou 7 meses para o papel. Ela fez uma dieta rigorosa, aulas de kick boxing e piercings nas sombrancelhas e nariz.

 

- Na cena em que acontece um jantar na casa do personagem Martin Vanger, é oferecido para o protagonista Mikael um whiskey envelhecido por 21 anos. Foi usado na sequência o "Bushmills" puro malte, o mais antigo whiskey irlandês puro malte disponível no mercado.

 

Ficha Técnica

 

Título original: Man Som Hatar Kvinnor

Ano de lançamento: 2009

Diretor: Niels Arden Oplev                                            

Roteiristas: Nikolaj Arcel e Rasmus Heisterberg

Trilha sonora: Jacob Groth

Elenco Principal: Michael Nyqvist, Noomi Rapace, Peter Haber, Lena Endre

 

Saiba Mais 
- Site "Trilogia Millennium" 
- UOL Notícias - Cinema
- Daniel Craig confirmado para versão norte americana do filme
- Site "The Dragon Tattoo Film"
- Site oficial do livro "The Girl With The Dragon Tattoo"

 

Leia Também
- Crítica do filme no site Cineplayers 
- Crítica do filme no site Omelete
- Crítica do filme no site Cinepop

 

Comentários

Data: 08-11-2010

De: Lorena

Assunto: Correção

Ficou ótimo, Ana. Vamos publicar também no Impressão Online.

Lorena

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