
O diálogo vivo de Gal com a frieza dos autotunes
Gal Costa e Caetano Veloso fazem som moderno em um cd que parece estar à frente do nosso tempo
Por Ana Luiza Gonçalves - JRN7
Após uma lacuna de 15 anos, Gal Costa e Caetano Veloso resolveram juntar mente e voz e colocá-las numa mesma massa para lançar “Recanto”, o último cd dela, produzido, quase inteiramente, por ele. O eterno tropicalista propôs a Gal que cantasse música compostas por ele, exclusivamente, para o timbre de voz dela. No álbum, estão presentes onze canções que revigoram uma das vozes mais afinadas do mundo duelando com a contemporaneidade dos softwares.
Caetano e os coadjuvantes, não menos importantes, Kassin, Pedro Sá, Donatinho, Robatik e Bartolo fazem um som moderno, elevando a voz de Gal para acompanhar as batidas eletrônicas do cd. Mesmo afastado dos antigos trabalhos da baiana, em “Recanto” é possível adentrar o universo da cantora e se deixar levar por sua voz. Entre artificialismos experimentais de “Recanto”, surge o diálogo com a Tropicália de Caetano e Gil e tantos outros, que adentraram o movimento explosivo, balançando toda uma cultura moldada, no fim da década de 1960. Assim, o álbum traz características da época em que era moda usar os cabelos longos e encaracolados e roupas coloridas.
Além dos efeitos sonoros, algumas canções do cd são carregadas de mensagens que relembram canções reflexivas de Gilberto Gil e Caetano, na época da Tropicália, como “Sexo e dinheiro”. Outras trazem questões com elementos da realidade, como “Neguinho”, e “Segunda” surge no cd como a única que não contém bases eletrônicas e faz menção à sociedade e a programas do governo.
Das onze canções, nove são inéditas e feitas para Gal. As outras duas – “Mansidão”, que foi gravada por Jane Duboc, no final dos anos 80, e “Madre Deus”, feita para o balé do Grupo Corpo – Caetano achou que caberia no novo ambiente de cantora. O cd também traz músicas abstratas, como “Cara do mundo”, que convida a olhar o mundo de uma forma mais ampla, sem se preocupar com as emoções individuais. A fria “Tudo dói”, remete às melodias e letras das músicas do bossa-novista João Gilberto. Pensando em Gabriel, filho adotivo de Gal, Caetano compôs “Menino”. Para finalizar a lista surge a inovadora “Miami Maculelê”, que faz referência, nada mais, nada menos, ao funk carioca.
Tudo em “Recanto” chama atenção: as bases, as mixagens, os arranjos, as letras, as melodias, a delicadeza e até o que está escondido por trás de todo o trabalho. A voz de Gal duela e amacia a frieza do autotune e afirma consegue sustentar qualquer ousadia tropicalista que aparecer por aí. No cd, a interpretação de Gal não se perde entre o moderno e o tradicional. A cabeça pensante de Caetano elevou mais ainda os gritos afinados de Gal para patamares contemporâneos.
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CURIOSIDADES:
. Preço médio do cd: R$ 30
. De dezembro de 2011, mês de lançamento do cd, a março 2012 foram vendidas 25 mil cópias de Recanto
. Todo o cd foi feito no GarageBand (software da Apple)
. Gal Costa estava longe dos discos e dos shows inéditos há sete anos
. Além de todas as canções do cd, fazem parte do repertório do show sucessos como “Vapor Barato”, “Meu bem, meu mal,” e “Um dia de domingo”
SAIBA MAIS:
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Questionário
O que você achou mais inovador e interessante em "Recanto"?
As batidas eletrônicas suavizadas pela voz de Gal Costa (9)
O duelo entre o tradicional e o moderno (9)
O funk de "Miami Maculelê" (7)
O retorno do tropicalismo na voz de Gal Costa (8)
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