O novo detetive, a velha diversão

27-10-2010 09:41

Repaginados, Holmes e seu fiel companheiro de investigações, Dr. Watson, precisam desvendar os mistérios que assolam a sombria Londres e ainda superar seus entraves pessoais 

 

Julia Ruiz

juliazruiz@gmail.com
 

Logo depois de assistir ao filme, muitas pessoas, algumas até aparentemente frustradas, comentaram: “esse não é o Sherlock Holmes que eu conheço”. Realmente não é. Contudo, em tempos em que personagens como Batman e Wolverine, sob a “fúria” hollywoodiana, são adaptados a gostos contemporâneos de uma forma bem, digamos, democrática, não é de se surpreender que a criação imortal do escritor e médico inglês Sir Arthur Conan Doyle fosse repaginada. E isso não é, necessariamente, algo ruim.
 

Apresentado originalmente na revista britânica Beeton’s Christimas Annual, em 1887, Holmes teve suas características exploradas aos poucos por seu criador. A cada história, uma nova faceta do detetive de Baker Street era revelada. Neste “Sherlock Holmes”, de Guy Ritchie (Snatch – Porcos e Diamantes; Revolver), um perfil mais ‘aventuresco’ é explorado, o que concede ao herói vitoriano um novo perfil. Desaparece, portanto, a figura sisuda, consagrada na série de televisão britânica da década de 1950 e surge um Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.) sem o famoso “nariz adunco”, mais forte e ainda mais combativo – em vez de boxe, ele pratica vale-tudo – porém mais baixo que seu amigo e companheiro inseparável de investigações, o Dr. Watson (Jude Law). Este também não passou ileso das adaptações de Ritchie. Nada daquela figura rechonchuda e feia. Aqui pode-se ver um Watson magro, alto e com muita pose de intelectual.
 

Apesar das adaptações, pontos muito importantes estão presentes neste Holmes: a personalidade fascinante apresentada nos livros. Profundamente observador, cínico, excêntrico e até mesmo autodestrutivo, Sherlock é também o inquilino infernal que a resignada Sra. Hudson atura há anos. E, como não poderia faltar, é dotado de um poder de dedução magnífico, conseguindo resolver sem qualquer esforço – e mesmo à distância - a maior parte dos casos que lhe são apresentados. Além disso, Holmes era originalmente um famoso boxeador, por isso, nem mesmo seus confrontos físicos apresentados ao longo da projeção poderiam ser considerados como algo estranho à sua figura.
 

Cheia de movimentos e já apresentando bem as características fascinantes do protagonista, no melhor estilo Guy Ritchie, a trama começa bem promissora ao apresentar Holmes e Watson desmascarando o sombrio político inglês Lord Blackwood (Mark Strong) prestes a cometer um crime: o sacrifício de uma jovem em um ritual de magia negra.
 

Com a condenação de Blackwood à forca, finalmente a aterrorizada Londres poderia respirar aliviada... Mas o trabalho de Holmes, Watson e, claro, da Scontland yard, só está começando. E, como se não bastassem os mistérios que o famoso detetive precisa desvendar, Holmes ainda tem que lidar com o afastamento de seu melhor amigo, Watson, que vai se casar, e do aparecimento da antiga paixão – a bela Irene Adler (Rachel McAdams).
 

Ao longo da projeção, percebe-se o quanto o diretor Guy Ritchie divertiu-se com as possibilidades que Holmes apresenta. Suas habilidades físicas e o raciocínio ágil são combustíveis para recursos cinematográficos que Ritchie adora, como por exemplo o slow motion nas cenas que antecedem as ações calculadas do detetive. O diálogo veloz, afiado e bem-humorado permite a Ritchie criar cenas divertidíssimas e, ao mesmo tempo, preservar o clima de suspense. Tudo isso acompanhado pela trilha sonora de Hans Zimmer, que dá o tom certo ao desenrolar da trama.
 

Aliás, Ritchie e seus roteiristas acertam em cheio nos contrapontos. Por exemplo, ao combinarem as rápidas deduções do detetive ao seu vigor físico quando ele analisa detalhadamente como explorar os pontos fracos de seus adversários antes de golpeá-los. Das mesma forma, o cineasta mostra a exaustão sentida por Holmes em função de sua agilidade mental, numa das cenas mais marcantes do filme, na qual, ele esgotado por sua natureza observadora, fecha os olhos num restaurante lotado para evitar o excesso de estímulos visuais. Para completar, deve-se ressaltar a brilhante atuação de Robert Downey Jr., que acrescenta seu próprio toque ao detetive à medida que o encarna com irreverência constante – por exemplo, quando Holmes reage com descaso ao descobrir estar diante de um importante ministro.
 

Mas o grande trunfo do filme talvez seja a relação entre Holmes e Watson. Demonstrando uma ‘química’ surpreendente com Downey Jr., o ótimo Jude Law consegue encarnar com propriedade a impaciência, ao mesmo tempo, a inércia de Watson diante das tantas excentricidades do amigo ao mesmo tempo em que deixa claro sua admiração e preocupação pelo detetive.
 

O mesmo pode-se afirmar sobre Irene Adler, vivida pela talentosa Rachel McAdams. Além de apresentar um comportamento intrigante e muitas vezes duvidoso, é uma personagem que, além do próprio Lord Blackwood, consegue desafiar – e até mesmo atordoar – o detetive de Baker Street. Fechando o elenco principal, Eddie Marsan apresenta um Lestrade acertadamente estúpido, enquanto Mark Strong demonstra estar bem à vontade como o vilão Lord Blackwood, exprimindo uma aura fria, sombria e misteriosa na medida certa.
 

O problema é que “Sherlock Holmes” acaba pecando por sua própria ambição. É visível o desespero de ser democrático, de tornar este não só um bom filme, mas uma lucrativa franquia. Dessa forma, “sobram” cenas exageradas e desnecessárias, como aquela em que a perseguição do grandalhão francês a Holmes faz com que um navio se desprenda do local de manutenção e acabe saindo mar adentro. O desfecho, minusciosamente explicado, demonstra a falha do próprio roteiro, já que a lógica aparente do longa é a de quer ninguém quer se sentir burro, saindo do cinema sem entender o que levou às conclusões finais – como se as pessoas não fossem capazes de raciocinar por si só. Assim, quando Holmes finalmente esclarece o que houve, em vez de o público ficar deslumbrado com sua capacidade de dedução, acaba ficando perplexo com relação às motivações e métodos do vilão.
 

A cena final também escancara um gancho para continuação, o que leva a crer no objetivo da já mencionada franquia.
 

De todo modo, é sempre diversão garantida acompanhar um personagem tão inteligente e curioso, sobretudo quando ele confronta um inimigo tão desafiador – e com vários percalços no caminho. Agora, é aguardar o próximo filme. Afinal, os fãs das aventuras do detetive de Baker Street devem estar curiosos para ver as artimanhas do possivelmente repaginado Professor Moriarty.


Ouça a crítica em podcast:
 
 
 
Curiosidades:

- A casa de Sherlock Holmes foi usada anteriormente como a casa de Sirius Black, em Harry Potter e a Ordem da Fênix (2007).

- Robert Downey Jr. leu diversas estórias de Sherlock Holmes e assistiu a série de TV "The Adventures of Sherlock Holmes" (1984) para se preparar para o filme;

- Colin Farrell esteve cotado para interpretar o dr. Watson

- Sienna Miller esteve em negociações para atuar no filme;

- Este é o 3º filme em que o diretor Guy Ritchie e o ator Mark Strong trabalham juntos. Os anteriores foram Revolver (2005) e Rock'n'Rolla - A Grande Roubada (2008);

- É o 1º filme com o personagem Sherlock Holmes a ser lançado nos Estados Unidos desde 1988, quando estreou Sherlock e Eu;

- Durante as filmagens de uma cena de luta Robert Maillet acidentalmente nocauteou Robert Downey Jr.

 

 

Ficha técnica

Gênero: Ação / Aventura / Drama
Ano de Lançamento: 2009
Qualidade: CAM
Formato: AVi
Idioma: Inglês
Legenda: Sem Legenda
Tamanho: 424Mb
Tempo de Duração: 149Minutos
Qualidade de Áudio: 5
Qualidade de Vídeo: 5
 

 

 
Saiba mais

Site oficial do filme Sherlock Holmes:

sherlock-holmes-movie.warnerbros.com/dvd/index.html

Entrevista com o diretor do filme, Guy Ritchie:

omelete.com.br/cinema/omelete-entrevista-guy-ritchie/

Robert Downey Jr e Jude Law usam roupas de época em set de Sherlock Holmes 2:

revistaquem.globo.com/Revista/Quem/0,,EMI180912-8224,00-ROBERT+DOWNEY+JR+E+JUDE+LAW+APARECEM+COM+ROUPAS+DE+EPOCA+EM+SET+DE+FILMAGEM.html

Fotos dos bastidores de Sherlock Holmes 2:

virgula.uol.com.br/ver/noticia/diversao/2010/10/22/260804-veja-novas-fotos-dos-bastidores-de-sherlock-holmes-2

Robert Downey Jr e Jude Law gravam Sherlock Holmes 2:

cinema.terra.com.br/interna/0,,OI4741010-EI1176,00-Robert+Downey+e+Jude+Law+filmam+Sherlock+Holmes+em+Londres.html

 

 

Leia Também

Critica do site Cinema em Cena:

www.cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_critica=7517&id_filme=6083&aba=critica

Critica do site Adoro Cinema:

www.adorocinema.com/cinenews/criticas-sherlock-holmes-3214/

Critica do site Omelete:

omelete.com.br/cinema/critica-sherlock-holmes/

Tópico: O novo detetive, a velha diversão

Data: 03-11-2010

De: Lorena

Assunto: Correção

Júlia,

Este texto é uma "adaptação" da crítica de https://omelete.com.br/cinema/critica-sherlock-holmes/ e constitui plágio.

Você não terá nota neste exercício.

Lorena

Questionário

Você gostou do 'novo' Sherlock Holmes?

Sim. (5)
38%

Não. (4)
31%

Não sei, é a primeira vez que vejo algo sobre o detetive. (4)
31%

Total de votos: 13

Procurar no site

Tags