Jornalistas demitidos pelas redes

27-04-2012 20:33

Redes Sociais causam demissões e levanta discussão sobre uso indevido no meio jornalístico

Por Éber Vaz e Jardel Veloso

 

Inicialmente, os veículos de comunicação tradicionais resistiram a redes sociais. Depois, perceberam ser impossível ignorá-las e passaram a não só adotar práticas nativas nas mídias sociais como o compartilhamento de conteúdos e, ainda, incentivar a participação dos públicos no processo de produção de informação.

 

Desde então, a integração entre jornalismo e mídias sociais parece aumentar a cada dia. A criação de novas ferramentas e a adesão cada vez maior da população a sites como Twitter ou Facebook, colocam o campo de trabalho cada vez mais próximo da população que busca interatividade e informação.

 

Como em todo meio em que se compartilha informações, há grande exposição da vida particular das pessoas. Com o jornalismo isso não é diferente. A mesma ferramenta que divulga informações preciosas também pode representar riscos imensos. É uma faca de dois gumes, que promove ou rebaixa os profissionais.

 

A pouco tempo vimos a sucessiva demissão de jornalistas que postaram na rede social, assuntos que colocaram em risco sua credibilidade no veículo em que trabalhavam. O caso mais recente foi a demissão da jornalista Rita Lisauskas, âncora do RedeTV! News, considerada inaceitável pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP). A âncora foi demitida pela emissora, após fazer o seguinte desabafo no Facebook:

 

“Queria só entender como tem empresário que consegue colocar a cabeça no travesseiro e dormir, sabendo que há centenas de profissionais sem salário há, no mínimo, dois meses bem na semana do Natal. E o pior: como tem assessor de imprensa (ou seja, coleguinha) que se digna a desmentir o óbvio com a seguinte pérola: ‘É mentira desses funcionários, pois os salários estão em dia.’ Aos colegas que pensaram em me enviar mensagem pedindo para que me cale nem percam seu precioso tempo. Sou profissional, tenho dignidade, mas não tenho estômago", publicou a jornalista.

 

Para a RedeTV! esse tipo de assunto é de âmbito interno e não poderia, jamais, ter sido levado para o espaço público das redes sociais. Seria mesmo uma falta de ética o jornalista expressar sua opinião nas redes sociais?

 

No Brasil e no mundo, jornalistas tiveram suas carreiras comprometidas após divulgarem algum comentário polêmico que desagradasse o veículo em que trabalhavam ou, ainda, a repercussão de assuntos considerados fora do manual de ética da profissão. O repórter Luiz Ceará, que fazia parte da Rede Bandeirantes foi outro que perdeu o emprego, após criticar pelo Twitter o presidente de Cruzeiro E. C. Embora afirmem não haver ligação entre os fatos, o jornalista chamou de “banana” o dirigente do time mineiro e isso lhe custou a vaga no canal do Morumbi.

 

Mas até onde vão os limites de publicações em redes sociais? Como no caso da comédia standup, que confundem piadas e esquetes de humor com apelação e apologia a crimes, os jornalistas também tendem a perder o domínio da situação e começar a depor contra eles mesmos.

 

Para o professor e jornalista Eugênio Bucci, um dos problemas é que as pessoas não conseguem ver o microblog como um lugar público, de discussão. “O Twitter dá visibilidade às pessoas. Ocorre um descolamento dos assuntos para a esfera pública”, comenta. Para ele, ao publicar algo no microblog, o jornalista está exposto da mesma forma que ao assinar uma reportagem em jornal ou revista.

 

Saiba mais:

https://portalimprensa.uol.com.br/noticias/brasil/46522/apresentadora+e+demitida+e+sindicato+dos+jornalistas+declara+guerra+a+rede+tv

https://ijnet.org/pt-br/jornalistas-devem-ser-demitidos-por-revelarem-suas-opini%C3%B5es

https://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=8&id_noticia=154729

https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-9722-jornalista-americano-e-demitido-por-dar-detalhes-no-tumblr-de-uma-oferta-de-trabalho

 

Leia também:

https://confibercom.org/anais2011/pdf/167.pdf

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