InterAGIR é preciso: lição para jornalistas

17-03-2011 10:36

Por Lucas Alvarenga

Agora protagonistas, cidadãos usam #, @ e links nas mídias sociais para "curtir" e serem "curtidos"


A história mostra que onde houve revolução, a tecnologia esteve presente. Assim ocorreu na Rússia, com folhetos e cartazes a pedir pela queda do czarismo. Veio a acontecer via rádio na resistência francesa ao nazismo e durante a Revolução Cubana de 1959. Manifestou-se por meio do mimeógrafo na ditadura militar brasileira de 1964. E causou frison no mundo com fitas-cassetes sobre a revolução religiosa iraniana.

 

Nesta década, porém, é a internet que compõe tal front revolucionário. Com popularização do You Tube e do Facebook, vídeos sobre a opressão em países muçulmanos como o Irã foram disseminados mundo afora. Recentemente no Egito, a internet protagonizou uma situação histórica ao revelar aos usuários da grande teia - a World Wide Web - quem era o então ditador Hosni Mubarak, derrubado em fevereiro passado.

 

Antes atenta às insurgências mundiais pelos meios analógicos, a mídia tradicional vive um momento delicado em sua história. Considerada pelo jornalista Frederick Knight, em 1850, como o “quarto poder”, a imprensa convive hoje com a possibilidade de cidadãos comuns darem seu parecer sobre questões antes restritas aos profissionais da comunicação. E ainda, depara-se com o crescimento das “mídias sociais” (Facebook, Twitter, Orkut, You Tube), sites de relacionamento e ferramentas de opinião a serviço dos usuários.

 

Uma nova revolução tecnológica, tão ou mais visceral que a prensa de Gutenberg. E que a imprensa em sua maioria não acompanha, restringindo funcionários ao acesso destas “mídias sociais” e se desconectando da realidade, cada vez mais presente nas comunidades pela internet. Por encarar a inteligência coletiva – termo atribuído ao filósofo da informação Pierre Lévy – como concorrência, jornalistas e empresas do setor não enxergam o novo protagonismo social a se constituir nas redes de relacionamento. E assim, perdem o tempo da notícia ou a notícia por inteiro.

 

O jornalismo continua a ter seu espaço. Afinal, o mercado de consumidores de informação cresce, apesar das vendas de jornais na Europa e nos Estados Unidos caírem 15% ao ano. O que muda é o posicionamento do sujeito frente às questões sociais.

 

Com as facilidades de propagação de ideias por meio da internet, o modelo vertical de comunicação dá lugar à horizontalidade das relações entre mediadores e consumidores da notícia. A insurgência dos blogs e de perfis nas mídias sociais faz do cidadão um protagonista, que hoje participa da construção do fato ao acrescentar comentários, enviar vídeos e divulgar notícias na rede mundial de computadores.

 

O fenômeno dos twitts que ajudou a eleger Barack Obama como presidente nos Estados Unidos ilustra a situação. Tudo porque ele derruba dois preconceitos com relação à internet e às redes sociais. Primeiro sobre a superficialidade da notícia. O microblog Twitter apesar de conter 140 caracteres, conseguiu renovar a cultura do hiperlink, levando o internauta a mergulhar na notícia. E em segundo lugar, sobre a eficácia destas mídias para a prática jornalística, algo já comprovado no Brasil durante períodos eleitorais e na entrada do Exército e de militares nas favelas do Rio de Janeiro, no início de 2011.

 

Na era digital, quem, de acordo com Rosental Calmon, recusa-se a fazer parte dela, isola-se do mundo. Ignora assim o potencial desburocratizante das mídias sociais, capazes de dar voz às "sombras" que a mídia tradicional, por seus recursos financeiros escassos e pelo oficialismo, dificilmente enxerga.

 

As mídias sociais se estabeleceram. Resta ao jornalismo acompanhá-las, dialogar com as redes, checar e novamente checar o conteúdo vindo por meio delas. O profissional da imprensa é por excelência um mediador social. Cabe a ele cumprir seu papel, interagindo com o cidadão, sujeito com quem se mantém a maior das lealdades.

 

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Data: 20-03-2011

De: Lorena

Assunto: Mídias Sociais e Jornalismo

Excelente texto, título e edição, Lucas. É um prazer trabalhar com um profissional interessado e competente como você.

Uma pergunta: nos projetos atuais em que está envolvido, existe um plano de abordagem para as mídias sociais? Como funciona?

Data: 23-03-2011

De: Lucas Alvarenga

Assunto: Re: Mídias Sociais e Jornalismo

Lorena, um dos primeiros planos a ser elaborado para o "Ocê no Samba" foi o de mídias sociais. O site funcionava sem uma abordagem definido para Twitter, Orkut e Facebook.

A mudança teve início ainda no primeiro semestre de 2010, quando instituiu-se o uso do Twitter para promoções do site, a prática do retuite de comentários sobre o samba de BH e atualizações pelo menos duas vezes a cada período do dia (manhã, tarde e noite).

Quanto ao Orkut, a estratégia foi utilizar o campo de mensagens instantâneas, como teasers sobre os posts, além de participar eventualmente de fóruns em comunidades sobre samba. Uma galeria de fotos complementar a do site - voltada aos bastidores - foi aberta no Orkut.

Já o Facebook foi criado uma semana antes da mudança visual do site. Para ele, além das mensagens instantâneas, incentivamos a prática do "curtir" a notícia.

Todos ainda têm duas funções em comum: estão organizados em listas para facilitar a ronda atrás de informações úteis e ainda prestam-se à manter um nível aceitável de interação com o leitor-apreciador de samba.

Outros projetos seguirão estratégias parecidas, incluindo redes como You Tube ou Vimeo, Flickr e Delicio.us, provavelmente. O objetivo é ter um feedback sobre o que pensam, para cada publicação, os leitores.

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