
InterAGIR é preciso: lição para jornalistas
Por Lucas Alvarenga
Agora protagonistas, cidadãos usam #, @ e links nas mídias sociais para "curtir" e serem "curtidos"
A história mostra que onde houve revolução, a tecnologia esteve presente. Assim ocorreu na Rússia, com folhetos e cartazes a pedir pela queda do czarismo. Veio a acontecer via rádio na resistência francesa ao nazismo e durante a Revolução Cubana de 1959. Manifestou-se por meio do mimeógrafo na ditadura militar brasileira de 1964. E causou frison no mundo com fitas-cassetes sobre a revolução religiosa iraniana.
Nesta década, porém, é a internet que compõe tal front revolucionário. Com popularização do You Tube e do Facebook, vídeos sobre a opressão em países muçulmanos como o Irã foram disseminados mundo afora. Recentemente no Egito, a internet protagonizou uma situação histórica ao revelar aos usuários da grande teia - a World Wide Web - quem era o então ditador Hosni Mubarak, derrubado em fevereiro passado.
Antes atenta às insurgências mundiais pelos meios analógicos, a mídia tradicional vive um momento delicado em sua história. Considerada pelo jornalista Frederick Knight, em 1850, como o “quarto poder”, a imprensa convive hoje com a possibilidade de cidadãos comuns darem seu parecer sobre questões antes restritas aos profissionais da comunicação. E ainda, depara-se com o crescimento das “mídias sociais” (Facebook, Twitter, Orkut, You Tube), sites de relacionamento e ferramentas de opinião a serviço dos usuários.
Uma nova revolução tecnológica, tão ou mais visceral que a prensa de Gutenberg. E que a imprensa em sua maioria não acompanha, restringindo funcionários ao acesso destas “mídias sociais” e se desconectando da realidade, cada vez mais presente nas comunidades pela internet. Por encarar a inteligência coletiva – termo atribuído ao filósofo da informação Pierre Lévy – como concorrência, jornalistas e empresas do setor não enxergam o novo protagonismo social a se constituir nas redes de relacionamento. E assim, perdem o tempo da notícia ou a notícia por inteiro.
O jornalismo continua a ter seu espaço. Afinal, o mercado de consumidores de informação cresce, apesar das vendas de jornais na Europa e nos Estados Unidos caírem 15% ao ano. O que muda é o posicionamento do sujeito frente às questões sociais.
Com as facilidades de propagação de ideias por meio da internet, o modelo vertical de comunicação dá lugar à horizontalidade das relações entre mediadores e consumidores da notícia. A insurgência dos blogs e de perfis nas mídias sociais faz do cidadão um protagonista, que hoje participa da construção do fato ao acrescentar comentários, enviar vídeos e divulgar notícias na rede mundial de computadores.
O fenômeno dos twitts que ajudou a eleger Barack Obama como presidente nos Estados Unidos ilustra a situação. Tudo porque ele derruba dois preconceitos com relação à internet e às redes sociais. Primeiro sobre a superficialidade da notícia. O microblog Twitter apesar de conter 140 caracteres, conseguiu renovar a cultura do hiperlink, levando o internauta a mergulhar na notícia. E em segundo lugar, sobre a eficácia destas mídias para a prática jornalística, algo já comprovado no Brasil durante períodos eleitorais e na entrada do Exército e de militares nas favelas do Rio de Janeiro, no início de 2011.
Na era digital, quem, de acordo com Rosental Calmon, recusa-se a fazer parte dela, isola-se do mundo. Ignora assim o potencial desburocratizante das mídias sociais, capazes de dar voz às "sombras" que a mídia tradicional, por seus recursos financeiros escassos e pelo oficialismo, dificilmente enxerga.
As mídias sociais se estabeleceram. Resta ao jornalismo acompanhá-las, dialogar com as redes, checar e novamente checar o conteúdo vindo por meio delas. O profissional da imprensa é por excelência um mediador social. Cabe a ele cumprir seu papel, interagindo com o cidadão, sujeito com quem se mantém a maior das lealdades.