Impulsividade ou Imaturidade?

Jack Sabino

(7º período - jornalismo UNI-BH)

jacqueline.camilo@veloxmail.com.br

O último surto de raiva do jovem promissor Neymar, atacante do Santos, no auge dos seus 18 anos, coloca em discussão não só a falta de maturidade de algumas de nossas promessas, mas também a mea-culpa da mídia na construção de um novo ídolo. No jogo entre o Santos e Atlético-GO, ao ser preterido em uma cobrança de pênalti, Neymar explodiu para cima dos jogadores rivais, os do próprio time e sobrou até para o técnico Dorival Júnior. O desrespeito foi tamanho que além da multa sobre o seu salário, o jogador foi afastado. Pena branda para um ato de tamanha rebeldia por um motivo tão banal.

Problemas comportamentais de jogadores de futebol tanto dentro quanto fora de campo não são novidade. Adriano do Flamengo sempre teve fama de baladeiro e já foi manchete dos jornais também por agredir uma ex-namorada. Vagner Love, também do time carioca, foi acusado de ligação com traficantes. E o caso mais recente, do goleiro Bruno, engrossando as más estatísticas do Flamengo, que está preso em Minas Gerais suspeito do sumiço da ex-amante com requintes de crueldade. Todos com pontos em comum, além da inegável habilidade no futebol, são os problemas fora do campo, mas, que podem, inevitavelmente, repercutir em seu desenvolvimento nos jogos.

A reprovação à atitude de Neymar veio logo pelo torcida, que imediatamente vaiou o jogador. No ano passado, Léo Moura, lateral do Flamengo (denovo) protagonizou cenas de rebeldia em campo. A cada toque de bola, o jogador era vaiado pela torcida rubro-negra, que, há tempos atrás, mantinha uma relação de amor e endeusamento com o lateral. Após o gol, vieram os xingos de Léo dirigidos à torcida. Lúcio Flávio, meia do Botafogo, já foi vaiado pela torcida quando retornou ao time após uma breve passagem pelo Santos. Eder Luiz, atacante do Atlético mineiro, passou pelo mesmo problema. Porém, estes dois últimos não tiveram ataques de histeria e interpretaram as críticas como uma fase e procuraram amadurecer com elas.

O fato de jogar dentro de casa pode ser um dos fatores que culminam para o excesso de adrenalina e também falta de paciência por parte dos atletas. Pode ter acontecido com Neymar. Pode. É uma possibilidade bem remota. Porque o rapaz não gostou de não ser o escolhido para cobrar um simples pênalti. Acostumado a ser o centro das atenções e intitulado pela mídia como “A jóia”, Neymar praticamente se acha um diamante raro, que de tão valioso e desejado deve ser acatado a todo o momento. A sensação de “todo poderoso” que Neymar sente lhe foi confirmada durante a Copa quando Dunga foi repetidamente criticado por não levar a “nova promessa do futebol brasileiro” para a África. Campanhas e mais campanhas populares imploravam a presença do jovem. Mas ele não foi. E durante o amistoso contra os Estados Unidos, o jogador fez bonito com um time de um país cujo forte não é o futebol de gramado e confirmou a quem ainda tivesse dúvidas o seu (controverso) favoritismo. 

Não só os valores familiares são importantes como alicerce de crescimento de jovens promessas em qualquer setor. Os pais de Neymar parecem manter os pés no chão e tentam colocar os do filho no mesmo lugar. O garoto, inclusive, já tem um psicológico para ajudá-lo a lidar com a fama e os milhões que fatura por mês que vieram de forma tão repentina. Punições severas são necessárias para que se evite tanto que Neymar quanto qualquer outro jogador se julgue tão superior capaz de menosprezar os outros em campo. Ganhar, todos querem. Mas que seja sempre com respeito e humildade com os seus adversários. Esta será uma tarefa difícil para Neymar que já está com sua imagem um tanto quanto trincada por sucessivas mancadas. Espero que ela não se quebre. É inegável seu talento, que se destaca entre os demais. Entretanto, ainda é uma pedra que precisa ser lapidada com cuidado, para evitar que seu ego se sobressaia à agilidade dos seus pés em campo.

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