
Fruto novo – e saboroso – nos campos da comunicação
Por Rafael Soal
O diretor de notícias globais da BBC recomendou a todos os colegas de profissão. A professora de Jornalismo On Line também não cansa de alertar os alunos. Não importa o degrau que esteja o jornalista, ele tem de haver com uma nova realidade. A Internet e as mídias sociais chegaram para ficar! Portanto, é bom repensar a forma de se fazer jornalismo.
Se o leitor precisa de provas cabais para entender, vamos a uma muito recente: um terremoto de proporções gigantescas atingiu o Japão. Se esse fato tivesse acontecido há uns dez anos, ou até menos, nós receberíamos a notícia – talvez – no mesmo dia, mas nossos olhos, predadores vorazes de imagens, teriam que esperar um pouco mais. Teríamos que contar com a sorte de algum cinegrafista, com seu pesado equipamento em mãos, estar próximo ao local, e em um lugar seguro, para que este registrasse, enviasse as imagens ao canal de televisão, para então serem retransmitidas para o mundo inteiro.
Mas esse terremoto foi há poucos dias. E soubemos da notícia quase que instantaneamente. E nossos olhos nem morreram de fome: a toda hora chegavam imagens de todos os lugares, de todos os ângulos possíveis, com todo tipo de qualidade que se possa imaginar. Mas como? O número de jornalistas aumentou naquele pequeno país? Não. O que aumentou foi a tecnologia. O que aumentou foram os números de celulares. O que chegou foi o Youtube. Os próprios cidadãos japoneses, mesmo em meio ao desespero de ver suas casas indo abaixo, ainda tinham um tempinho para posicionarem a câmera de seu Iphone e mostrar ao mundo todo cenas terríveis, a realidade que eles estavam vivendo. O mundo todo sentiu, de alguma forma, a sensação de ter o chão esmaecendo sob os seus pés. Só faltou mesmo o 3-D.
Compreenderam? Não podemos mais enxergar o jornalismo como uma via de mão única. Hoje, como afirmou o professor Rosental Calmon, a tarefa do jornalista não termina quando a reportagem fica pronta. Agora o outro lado também é importante. É importante ouvir e estar atento aos comentários dos leitores, ao que eles estão pensando, porque agora eles fazem parte da comunicação. E as redes sociais têm grande parcela de culpa. Se você, leitor, tem um Twitter, você é transmissor de informação em potencial.
Esta ferramenta aparentemente simples criou um reboliço no meio jornalístico. O Twitter pode ser uma fonte? As informações disponíveis no Twitter são dignas de confiança? A jornalista Vany Laubé defende que o Twitter pode ser um bom gatekeeper, e seus usuários, consequentemente, gatekeepers em potencial. Um usuário que segue o Twitter de um veículo de comunicação – o G1, por exemplo – é bombardeardo diariamente com as notícias publicadas no site. O usuário, no momento em que retwitta uma delas, seleciona “aquela” informação, pois de acordo com seus critérios, julgou ser muito interessante, a ponto de seus seguidores merecerem ler aquilo. Mas nessa curta explicação já podemos perceber a importância do jornalismo. O leitor consegue perceber?
O Twitter é uma faca de dois gumes. Ele pode ser o maior algoz do jornalista preguiçoso, mas pode ser um leal escudeiro do jornalista que corre atrás, que investiga, que apura. Cento e quarenta caracteres não podem nunca nos entregar uma notícia pronta, acabada, esperando ser copiada, colada e modificada. O vocalista do Strokes, Julian Casablancas, deve rir até hoje de seu feito. Num determinado dia de janeiro, ele postou em seu Twitter a capa do novo disco de sua banda. Loucos por um furo, o que mais foi visto foram portais como Terra e até nosso exemplo acima, o G1, explodindo a manchete: “Vocalista do Strokes disponibiliza no Twitter a capa do novo álbum”. Pois bem, a foto era uma pintura, uma simples pintura, que nosso band leader hype achou bonita, e resolveu fazer uma pegadinha. Cadê a apuração? Cadê o faro, cadê a desconfiança? É isso mesmo, um cantor de rock engraçadinho ensinou à imprensa uma grande lição: nem tudo que reluz no Twitter é ouro.
Por último, acho que vale uma observação interessante esmiuçada muito bem o escritor Chris Anderson em seu livro ‘A Cauda Longa’. Imagine você leitor, um mundo repleto de água e com apenas algumas ilhotas emergindo na superfície. Com o passar dos anos, o nível da água vai diminuindo, e assim, as terras que ficavam emersas sobem. Agora imagine o que será esse mundo após milhares de anos. É exatamente isso que está contecendo agora. Estamos vivendo o crescimento dos mercados de nicho.
A Internet proporcionou a nós uma capacidade aparentemente ilimitada. A notícia, anos atrás, era o que entrava no jornal que nossos avós sempre liam na varanda de casa, logo ao amanhecer. Hoje a notícia está em todos os lugares. Ela está nos sites, nos podcasts, nos blogs, no Twitter. Estima-se que atualmente existam uns duzentos milhões de blogs na rede. E, pode ter certeza, todos eles tem pelo menos em torno de dois acessos por dia.
Esse é o mercado de nicho. Pessoas procurando informações específicas sobre uma banda, sobre um disco que não está mais no mercado. Pessoas procurando um ângulo diferente do terremoto do Japão. E engana quem pensa que qualquer nota é capaz de sacia-los. Público muito exigente, esse. Eles querem textos ricos, bem embasados, devidamente apurados, e, principalmente, com diferencial. Essa é a palavra que pode fazer um leitor deixar de dar atenção à sua matéria, porque logo ali na frente, no quarto “O” do Google, tinha outra que tratava do mesmo assunto, mas era mais completa.
Se olharmos esses números que nos fazem até perder os sentidos, constatamos então que a função do jornalista não vai acabar. Existem milhares de mercados segmentados ávidos por informação, informação essa que ainda não viu a luz do dia. Informação esperando a competência necessária para “nascer”. Se tudo tem dois lados, por que enxergar nas mídias sociais o fim do mundo? Por que não avistar um lugar “onde tudo que se planta, dá”?
E a preguiça, jornalistas, é coisa de passarinho azul.