Evolução questionável

04-11-2010 20:12

Por David Batista*
(7º período - jornalismo UNI-BH)
davidbatistadines@gmail.com

 

Presume-se que cada nova geração tem a missão de superar as conquistas e características do modelo anterior. Mas os jovens de hoje estão conseguindo suplantar a prole anterior em matéria de falta de perspectiva. De acordo com dados levantados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do governo federal, a porcentagem de jovens entre 18 e 20 que não trabalha nem estuda cresceu de 22,5% em 2001 para 24,1% em 2009, representando 2,4 milhões de pessoas.

 

O número é ainda mais impressionante ao considerar que, no mesmo período, a taxa de desemprego do país teve queda de 0,9% e surgiram diversos programas governamentais de assistência social (Bolsa Família) e fomentos à educação superior (Pro-Uni) e profissionalizante (Jovem Aprendiz e Projovem). Os motivos apontados para tal fenômeno são diversos – aquecimento e acirramento do mercado de trabalho, e os próprios programas de transferência de renda à população – mas as soluções ainda não parecem concretas às instituições públicas.

 

Entretanto, o jovem brasileiro tem motivo para se desinteressar pelo sistema educacional, com a qualidade questionável do ensino em todo o país, principalmente no período fundamental. E, sem uma base de conhecimento, é impossível qualificar-se e garantir um bom espaço no mercado de trabalho. Parte considerável dos bons números atuais da educação se perde em modelos obsoletos como a progressão continuada de ensino, no qual o aluno não é reprovado, mesmo que não tenha adquirido conhecimentos básicos. Ainda, destes, apenas cerca de 40% conclui o ensino fundamental. Dos que adentram o ensino médio, o percentual que termina o terceiro ano é idêntico. Ou seja, parte ínfima chega à educação superior. Então por que fomentá-la de forma prioritária, se a base não é sólida?

 

A geração anterior, denominada X, foi marcada pelo advento dos slackers (que valorizavam a apatia, o tédio, a procrastinação e o cinismo), reduzindo toda a prole mundial a um adjetivo: “perdida”. O contexto era o fim das perspectivas utópicas da década de 1960, a crise econômica mundial, a Guerra Fria e os avanços tecnológicos no campo do entretenimento pessoal. No contexto sócio-econômico brasileiro de hoje, o ambiente sócio-econômico é muito mais cômodo para a juventude. Resta saber se há interesse dos jovens – e de seus responsáveis no poder – terão interesse em ratificar ou retificar essa “evolução”.

 

 

* David Batista é estudante do 7º período de jornalismo no Centro Universitário de Belo Horizonte.

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