
Elis: popular em todos os sentidos
Bruno Frade - JRM7
Lucas Alvarenga - JRM7
Se falasse, o palco do Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior seria testemunha. Há 45 anos, um verso levava a plateia ao delírio e sua intérprete, com seus movimentos tresloucados, ao estrelato. Com Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, a porto-alegrense Elis Regina Carvalho Costa conquistava o concurso musical de 1965 e o coração de milhares de brasileiros encantados com sua voz e personalidade.
Privilegiada por sua extensão vocal, Elis Regina cantou a vida nas mais diversas nuances. Do rock ao samba, passando pelo MPB, canção e bossa nova, a Pimentinha - apelido conferido a ela por Vinícius de Moraes - conseguia evocar emoções distintas em uma mesma canção. Assim, prestou-se a cantar o amor na romântica Fascinação, de Marchetti e Feraudy, e no samba "malocado" Tiro ao Álvaro, de Adoniran Barbosa.
Influenciada pelas cantoras da era de ouro do rádio, tais como Ângela Maria e Dalva de Oliveira, Elis já surgiu para o grande público como uma intérprete midiática. Totalmente diferente de Bethânia e Gal, que palmilharam sua trajetória inicial nos teatros e depois buscaram espaço na TV. Desta forma, quando chegou ao Rio de Janeiro e depois a São Paulo em 1964, a gaúcha despontou pronta para brilhar qual fosse o ritmo a ela imposto.
Assim, largou aos poucos o rock dos tempos do LP Viva a Brotolândia para cantar a tristeza, o amor e a felicidade no tom com Tom Jobim. Desta parceria se tornaram sucesso Corcovado e Águas de Março. Apesar disso, a irrequieta Pimentinha sambou e muito. Com Simonal, Elis puxou o batuque em Vem Balançar. Com outro bamba, Paulo César Pinheiro, a gaúcha musicou malandramente a letra de Vou Deitar e Rolar, ao dar ritmo ao sonoro Qua Qua Qua Qua.
A teatralidade nos palcos e a influência de Celly Campelo em sua mocidade aproximaram a gaúcha da paulista Rita Lee, de mesmo sobrenome, Carvalho. Foi dela e de seu marido, Roberto, que Elis Regina tomou emprestado Alô, alô marciano, uma crítica a fútil sociedade que se formava na época. A Pimentinha também se pôs a cantar O que foi feito deverá, de Milton Nascimento; Como nossos pais, de Belchior e tantas outras traduções de um povo acuado e parado no tempo e na história.
Daí em diante, Elis-cóptero - apelido de Lee para a amiga - entoou a reação ao regime militar definitivamente. E não foram poucas as manifestações contrárias à ditadura. Embora, nenhuma delas tenha tocado a gaúcha com tanta delicadeza e verdade como a canção de Aldir Blanc e João Bosco, O Bêbado e a Equilibrista, de 1979. Símbolo da anistia, a letra inspirada em Betinho e melodiada em homenagem a Chaplin encontrara na voz de Elis a síntese do Brasil Esperança.
De O Bêbado e a Equilibrista até a morte prematura com 36 anos, Elis fez da música um sacerdócio. Por ela e por meio dela a porto-alegrense grafou por inúmeras a sigla em MPB em letras maiúsculas e garrafais. Deixou gravados duetos com Jair Rodrigues e Chico Buarque. Projetou talentos como Ivan Lins, Renato Teixeira e seus próprios maridos Ronaldo Bôscoli e César Camargo Mariano. E só fez uma objeção: a de se manter popular e cantar o Brasil aos brasileiros.
Abaixo, uma linha do tempo com detalhes da versátil carreira e também da vida de Elis Regina: