
Descentrando a comunicação: de Gutemberg à pós-modernidade
Por Lucas Oliveira
O que há é um fluxo altamente interconectado entre a vida real e o ambiente virtual
Pensar hoje – século 21, Era da Informação, inclusão digital em vertiginosa expansão – em novas tecnologias de comunicação é abrir mão de boa parte das garantias quanto à estrutura que interligava emissores e receptores desde as primeiras teorias do conhecimento. Muito mudou: o modelo de negócio, a contribuição do receptor, a estrutura da linguagem, e, principalmente, as possibilidades sensoriais da experiência cognitiva. Tão ou até mais importante que a prensa móvel de Gutenber (1440), o advento da rede de computadores significou um marco histórico, político, cultural e social que mudaria para sempre a vida das pessoas.
A prática jornalística se completa com a internet, a rede abriga as redes sociais como lugar de discussão permanente e segmentada, e as novas mídias, por sua vez, chegam mesmo a interferir na própria realidade. Estes são só alguns dos exemplos da complexa teia formada: os ambientes online e offline estão interconectados, não há mais limites neste mundo pós-moderno.
Uma discussão que ganha força gradativamente entre estudiosos e comunicadores é quanto ao poder político das mídias sociais. Modelo avançado de inteligência coletiva, estas podem falar tão alto quanto grandes veículos analógicos de massa e movimentar comunidades em situações extremas. Um exemplo registrado na história foi chancelado ainda na era da comunicação unilateral - o rádio instruiu a resistência na França, quando nazistas ocupavam o país na Segunda Guerra Mundial. Mais próximo do que temos hoje, blogs e comunidades em redes sociais têm a possibilidade de movimentação ativista – podemos citar manifestos que circulam a internet como o “Dia Mundial Sem Carro”, “Hora do Planeta” e “Pare o Kadafi”, do grupo Avaaz, só para ficar nestes.
É fato que há uma tensão entre o mundo aqui fora e a realidade virtual, e jornalistas e comunicadores ainda não se adaptaram aos desafios que a nova profissão impôs. A abertura que a internet e as mídias sociais trouxeram para a comunicação entre os veículos e sua audiência possibilitou uma fragmentação na verticalização dos conteúdos. Nas redações, surgiram termos como “colaborativismo” e “jornalismo-cidadão”, iniciativas que tentam – muitos conseguem, outros apenas tentam – criar um produto verdadeiramente coletivo e com o melhor do interesse público.
Outro exemplo privilegiado da cultura participativa ordenada com as novas tecnologias pode ser explicado pela recente tragédia no Japão. O tsunami que registrou o tremor de 8.9 pontos na escala Richter e massacrou o leste japonês, assim como as explosões da usina nuclear de Fukushima, levaram pessoas até redes sociais como Twitter e Facebook para discutir os anseios e a necessidade da energia nuclear no país. Neste momento, a internet se apresentou como auxílio às vítimas e familiares – seja por meio de notícias quanto ao paradeiro de pessoas próximas ao local da catástrofe, seja para criar fundos de doações aos necessitados.
O processo de apuração também sofreu mudanças intensas. Levando em conta que a rede social é um desdobramento do mundo real e que lá, gratuitamente e espontaneamente, as pessoas postam conteúdos relacionados a suas vidas e comunidades, se tornou imprescindível para o jornalista ter acesso à essas ferramentas. Google, Twitter, Facebook são exemplos de plataformas que substituíram, aos poucos, os antigos telex, rádio-escuta e, por quê não, em breve, até mesmo o telefone.
Certo agora dessa cadeia de comunicação constituída que parece abocanhar, cada vez mais, o homem moderno, não há mais barreiras para que tudo se realize em tempo-real no mundo virtual, e é certo que nossos próprios comportamentos estão sendo, aos poucos, redefinidos. Resta acompanhar os anos que se seguirão e as próximas gerações, que não terão caminhos híbridos a penetrar, apenas a certeza que não há mais vida sem virtualidade.