Descentrando a comunicação: de Gutemberg à pós-modernidade

21-03-2011 20:33

Por Lucas Oliveira

O que há é um fluxo altamente interconectado entre a vida real e o ambiente virtual

 

Pensar hoje – século 21, Era da Informação, inclusão digital em vertiginosa expansão – em novas tecnologias de comunicação é abrir mão de boa parte das garantias quanto à estrutura que interligava emissores e receptores desde as primeiras teorias do conhecimento. Muito mudou: o modelo de negócio, a contribuição do receptor, a estrutura da linguagem, e, principalmente, as possibilidades sensoriais da experiência cognitiva. Tão ou até mais importante que a prensa móvel de Gutenber (1440), o advento da rede de computadores significou um marco histórico, político, cultural e social que mudaria para sempre a vida das pessoas.

 

A prática jornalística se completa com a internet, a rede abriga as redes sociais como lugar de discussão permanente e segmentada, e as novas mídias, por sua vez, chegam mesmo a interferir na própria realidade. Estes são só alguns dos exemplos da complexa teia formada: os ambientes online e offline estão interconectados, não há mais limites neste mundo pós-moderno.

 

Uma discussão que ganha força gradativamente entre estudiosos e comunicadores é quanto ao poder político das mídias sociais. Modelo avançado de inteligência coletiva, estas podem falar tão alto quanto grandes veículos analógicos de massa e movimentar comunidades em situações extremas. Um exemplo registrado na história foi chancelado ainda na era da comunicação unilateral - o rádio instruiu a resistência na França, quando nazistas ocupavam o país na Segunda Guerra Mundial. Mais próximo do que temos hoje, blogs e comunidades em redes sociais têm a possibilidade de movimentação ativista – podemos citar manifestos que circulam a internet como o “Dia Mundial Sem Carro”, “Hora do Planeta” e “Pare o Kadafi”, do grupo Avaaz, só para ficar nestes.

 

É fato que há uma tensão entre o mundo aqui fora e a realidade virtual, e jornalistas e comunicadores ainda não se adaptaram aos desafios que a nova profissão impôs. A abertura que a internet e as mídias sociais trouxeram para a comunicação entre os veículos e sua audiência possibilitou uma fragmentação na verticalização dos conteúdos. Nas redações, surgiram termos como “colaborativismo” e “jornalismo-cidadão”, iniciativas que tentam – muitos conseguem, outros apenas tentam – criar um produto verdadeiramente coletivo e com o melhor do interesse público.

 

Outro exemplo privilegiado da cultura participativa ordenada com as novas tecnologias pode ser explicado pela recente tragédia no Japão. O tsunami que registrou o tremor de 8.9 pontos na escala Richter e massacrou o leste japonês, assim como as explosões da usina nuclear de Fukushima, levaram pessoas até redes sociais como Twitter e Facebook para discutir os anseios e a necessidade da energia nuclear no país. Neste momento, a internet se apresentou como auxílio às vítimas e familiares – seja por meio de notícias quanto ao paradeiro de pessoas próximas ao local da catástrofe, seja para criar fundos de doações aos necessitados.  

 

O processo de apuração também sofreu mudanças intensas. Levando em conta que a rede social é um desdobramento do mundo real e que lá, gratuitamente e espontaneamente, as pessoas postam conteúdos relacionados a suas vidas e comunidades, se tornou imprescindível para o jornalista ter acesso à essas ferramentas. Google, Twitter, Facebook são exemplos de plataformas que substituíram, aos poucos, os antigos telex, rádio-escuta e, por quê não, em breve, até mesmo o telefone.

 

Certo agora dessa cadeia de comunicação constituída que parece abocanhar, cada vez mais, o homem moderno, não há mais barreiras para que tudo se realize em tempo-real no mundo virtual, e é certo que nossos próprios comportamentos estão sendo, aos poucos, redefinidos. Resta acompanhar os anos que se seguirão e as próximas gerações, que não terão caminhos híbridos a penetrar, apenas a certeza que não há mais vida sem virtualidade.

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Data: 24-03-2011

De: Lorena

Assunto: Mídias Sociais e Jornalismo

Ótimo texto, Luca.

Minha questão: pela sua experiência, quais têm sido as melhores iniciativas de utilização das redes sociais por parte da imprensa ? Cite alguns exemplos.

Data: 25-03-2011

De: Lucas Oliveira

Assunto: Re:Mídias Sociais e Jornalismo

Lorena,

as iniciativas, em grande parte, ainda são amadoras, estão em contínuo processo de adaptação e aprimoramento. Mas já acompanhamos algumas atuações interessantes:

- Veículos que cobrem o factual, como O Tempo Online, e postam no Twitter - em tempo real - informações sobre trânsito, evoluções de acidentes em rodovias ou clima, facilitando o indivídulo que se desloca pela cidade com sua mídia móvel;

- Outros veículos, estes de entretenimento, que humanizam de uma maneira criativa Twitter e Facebook. Como exemplos, a Revista Trip, a OiFm, a MTV (e por aí vai...) que partem do princípio que sua audiência quer estabelecer diálogos, trocar ideias e experiências como em qualquer relação de amizade. Para isso, eles usam tweets que dão informação com a pitada certa de ironia, bom humor e criatividade.

- Temos ainda os grandes jornais que criam suas próprias redes sociais com a intenção (apenas intenção) de seduzir o usuário a interagir em novos ambientes e contribuir - inclusive com informação - com os veículos.

- Isso sem falar no trivial: postar em chamadas atrativas os conteúdos publicados em seus sites, seguido do link encurtado.

- Por último, este um caminho bastante usado e baseado na lógica do convencimento pela retórica ou ganho material, alguns veículos promocionam brindes exclusivos nas redes (nesse caso Twitter, o mais usado) ou promovem marcas agressivamente com o intuito de conseguir novos seguidores ou aumentar o faturamento publicitário.

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