
Barcelona e Real Madri: história que vai além das quatro linhas
Luiz Martini e Tomaz Amâncio
A rivalidade entre Barcelona e Real Madrid, para muitos o maior clássico entre dois times do mundo, nasceu em 1902, quando os clubes se enfrentaram pela primeira vez, na semifinal da antiga Copa de la Coronación, na Espanha, competição que deu origem à atual Copa del Rey.
Até hoje, foram disputados 249 Superclássicos, com 91 vitórias do Real Madrid, 56 empates e 102 triunfos do Barcelona. Ao todo foram assinalados 396 gols pelo Real Madrid, e 423 pelo Barcelona. O maior artilheiro do confronto é Alfredo di Stéfano, argentino que vestiu a camisa madridista e que fez 18 gols na equipe catalã.
Para se ter ideia da força atual dos dois times, na última terça-feira, o superclássico que selou a classificação do Barça para a final da Liga dos Campeões foi o mais assistido na história do futebol com 14.114.000 de espectadores e 66,9% de audiência. O jogo foi transmitido apenas por um canal de televisão, a TVE, uma emissora pública espanhola.
Além da força futebolística, o jogo entre Merengues e Catalães se resume à política. A cidade de Barcelona representa a autonomia do povo Catalão, enquanto Madrid simboliza a centralização do poder. A Catalunha, cuja capital é Barcelona, é uma região situada a Nordeste da península Ibérica, entre os Pirineus, o rio Ebro e o mar Mediterrâneo. Submetida ao domínio de Castela desde o séc. XV, conservou privilégios até o final do séc. XVII. No séc. XIX, Barcelona foi autorizada a comerciar com a América, o que lhe proporcionou uma indústria dinâmica que favoreceu o enriquecimento. Paralelamente, na onda nacionalista romântica, surgiu em 1833 a Universidade da Catalunha, que fez renascer o catalão como língua literária. Em 1882, foi criado o Centro Catalão, que criou um movimento político pela pátria catalã.
O Fútbol Club Barcelona foi fundado em 1899, pelo suíço Hans Gamper. Depois de ter sido jogador, foi presidente em cinco ocasiões, até 1925. Nas suas gestões firmaram-se os laços entre o Barça e a cultura catalã, o que foi fundamental para o crescimento do número de sócios, que em 1924, era em torno de doze mil. Em 1925, a situação política espanhola era explosiva sob a ditadura de Primo de Rivera. A Catalunha gritava contra o centralização do poder e a repressão das esquerdas. Em 14 de junho, antes de um jogo regional, o público vaiou a execução do Hino Nacional. O clube foi fechado por três meses e Gamper obrigado a deixar a presidência para sempre.
Nos anos 30, o Barça passou por uma crise financeira, social e desportiva. Durante a Guerra Civil (1936-39), Josep Sunyol, esquerdista, presidente do Barça, foi assassinado pelos franquistas; num bombardeio aéreo, a sede do clube foi praticamente destruída. Do final da Guerra Civil até 1953, os presidentes do clube foram nomeados pelo ditador Francisco Franco. Nos anos 40, multiplicaram-se as acusações em torno dos trios de arbitragem e da presença ostensiva de autoridades franquistas nos vestiários para favorecer o Real Madrid, o que os madridistas negam veementemente. Nos anos 50, uma decisão judicial favorável ao Real Madrid, na contratação de Alfredo Di Stefano, o maior ídolo madridista até hoje, presidente de honra do clube, selou definitivamente a rivalidade.