Alice no país das Maravilhas

30-04-2011 09:13

Jéssica Ramos - JRM7B

jessicaholandesa@hotmail.com

 

 

O filme Alice no País das Maravilhas é mais um dos filmes surreais de Tim Burton, dessa vez aplicado ao estilo dos contos de fada Disney. A narrativa é baseada na fuga de um pedido de casamento em uma festa de noivado surpresa, em que Alice, agora aos 19 anos sai correndo atrás de um coelho, cai em um buraco e vai parar no País das Maravilhas, enquanto isso no “mundo real” todos aguardam sua resposta ao pedido de casamento.  A história de uma adolescente que volta aos seus sonhos de infância não traz nenhuma emoção nova a quem o assiste. A emoção é sustentada pela jovem que perde o pai, este que deixou para ela a lição de que devemos sempre acreditar no impossível. Através disso, ela volta aos sonhos surreais de sua infância e é designada para uma missão impossível no mundo das maravilhas de Burton. Agora mais madura, e diante de um pedido de casamento no mundo real, ela tenta resgatar, através das lições dos personagens de seu sonho, os valores de sua infância, tão alimentados pelo pai já falecido e tão fundamentais para o sucesso de sua missão.

 

A busca por esse valores faz referência ao reencontro da personagem com sua própria personalidade, que se vê a prova todo tempo no mundo fantástico, onde todos seres questionam se, aquela é mesmo a verdadeira Alice que havia estado no lugar quando criança. Essa Alice se reencontra ao voltar a acreditar na “realidade de seus sonhos” ou na possibilidade dos mesmos, já que relembra a velha lição deixada pelo pai. Os personagens fantásticos passam a esperar que Alice se familiarize com o cenário de seus antigos sonhos para que ela acredite não estar apenas sonhando e se sinta capaz de matar o temido Jaguadarte, monstro do reino da Malvada Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter) que tirou do trono a irmã Rainha Branca (anne Hathaway) responsável por antes manter o mundo das maravilhas como de fato é seu nome.

 

Os personagens são bizarros, porém humanizados com vícios e trabalhados pelo ego do diretor. A surrealidade é parte estratégica de todo o mecanismo dos movimentos nada naturais e do cenário típico dos filme Disney com os toques negros de Tim. O personagem vivido pelo ator Johnny Depp, p Chapeleiro Maluco, se mostra cômico e muitíssimo simpático. Ele é uma mistura de loucura e bondade, o típico louco e terno personagem de Tim Burton já visto em Edward Mãos de Tesoura.

 

O ser incompreendido é sempre exposto e tratado de forma piedosa no filmes de Burton. Dessa vez ele atribuiu a característica também à Alice, que tem sua personalidade questionada pelos seus velhos companheiros de sonhos e nem mesmo a si compreende em uma busca por seu verdadeiro eu que só é encontrado ao fim da obra. Esse aspecto em comum entre Alice e o Chapeleiro Maluco, duas pessoas que variam entre loucura e bondade, talvez seja o grande truque de Burton para torná-los amigos. Isso pode ser observado quando o Chapeleiro faz à Alice a mesma pergunta que ela fizera ao pai quando pequena, questionando se seria louco, e ela responde exatamente da mesma que o pai também a respondeu: “Receio que sim. Você é louquinho, mas vou lhe contar um segredo. As melhores pessoas são”. Conflitos entre pais e filhos também são um dos temas preferidos dos filmes de Tim Burton, e que pode ser visto na relação de Alice com sua mãe. A jovem não gosta nem mesmo das vestimentas femininas usadas na época em que se passa a narrativa e é criticada pela mãe que não entende os gostos da filha e tenta obrigá-la a se casar com um homem de quem não ela gosta.  

 

Nesse contexto digno da atenção das mais exigentes crianças do cinema é que estão outras abordagens como as piadinhas de humor negro ao longo do filme muito trabalhados nos deboches à Rainha Vermelha quanto ao tamanho de sua cabeça em relação ao tamanho de seu corpo, sem falar no lago cheio de cabeças que é satirizado pelas cabeças que a rainha malvada mandava cortar a todo tempo por qualquer mínimo motivo associado ao sentimento de inferioridade por sua terrível aparência. O incrível foi a utilização de efeitos especiais impecáveis; mais surpreendente visto na cabeça da personagem Rainha Vermelha que apresenta uma aparência humana e não-computadorizada/animada e é perfeitamente aplicada e cômica, fazendo-nos pensar em como o efeito foi feito com um resultado tão real.

 

Ao analisar em um segundo olhar a obra de Tim Burton a narrativa ficou ainda mais deficiente comparada ao cenário e figurino impecáveis e livres de todo e qualquer questionamento. A história mostrou-se um tanto limitada e inconvincente, mas original analisando-se as mudanças diante da verdadeira história literária. E as cenas de luta, que não costumam fazer parte da criatividade de Burton, se mostraram um tanto inconvincentes também. O momento em que o Chapeleiro Maluco teria sua cabeça cortada e de repente escapa da execução sem qualquer explicação visual, mas como mágica, deixa o espectador confuso., pois quando se dá conta o personagem não é atingido pelo machado sem qualquer ocorrência criativa, ou motivo.

 

O estranho é pensar, em, porque um filme tão visualmente perfeito pode ser tão fraco em sua narrativa. Com uma história pouco interessante, muito mais sustentada pela personalidade exótica dos personagens do que pela aventura em questão. Talvez essa fosse a verdadeira intenção do diretor, pois a produção é um típico filme de Burton, sem qualquer novidade ou glória, salvo apenas pelo belíssimo imaginário de sempre no figurino e cenário, que de nada valem a não ser pelo retorno comercial quase encomendado pela Disney e lucrativo para criação de games, brinquedos e até o uso em campanhas publicitárias, como foi visto nas propagandas impressas e eletrônicas da Chevrolet em 2010.

 

A missão e aventura de Alice que deveria ser a narrativa principal, têm um final que não se encaixa na ternura da personagem Alice em sua história original. Ela, terna e ao mesmo tempo desequilibrada, vestida com delicados vestidos e passando o sonho vendo figuras fantásticas e humanizadas, chega ao fim do filme vestida em uma armadura, como uma espécie de macacão de ferro mostrando as formas de seu corpo e enfrentando um monstro nada parecido com o encantamento dos outros personagens, em um cenário épico e escuro, parecido com os de luta do herói Hércules, que em nada se aplica ao tipo de filme, aos filmes de Burton e muito menos à personalidade de Alice vista em seu personagem desde a obra literária.

 

Ouça a crítica em podcast:

Alice no País das Maravilhas

 

FICHA TÉCNICA

 

Diretor: Tim Burton

Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Michael Sheen, Anne Hathaway, Helena Bonham Carter, Matt Lucas, Alan Rickman, Christopher Lee, Crispin Glover e Stephen Fry.

Produção: Richard Zanuck, Joe Roth, Jennifer e Suzanne Todd.

Roteriro: Linda Woolverton

Fotografia: Dariusz Wolski

Duração: 109 min.

Ano: 2010

País: EUA

Gênero: Fantasia

Cor: Colorido

Distribuidora: Walt Disney Pictures

Classificação: 10 anos

 

Saiba mais:

Site Oficial do Filme

Site Oficial do Diretor

 

Leia Também:

Veja crítica do filme na IG

Veja crítica do filme no UOL

Entrevista com Tim Burton em português

 

Tópico: Alice no país das Maravilhas

Data: 15-05-2011

De: Lorena

Assunto: Correção

Ficou legal, Jéssica.

Só faltou marcar em negrito palavras e frases no texto.

Lorena

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