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Por Isadora Soares e Rafael Soal
Nada como ser um estudante universitário para saber o que é andar de ônibus. O grande problema é que, com a correria do dia, entramos naquele carro gigante, pagamos a passagem, rodamos a catraca, sentamos no banco e esquecemos do mundo com nossos fones de ouvido. Mas já percebeu quanta gente tem dentro de um ônibus? Já percebeu que dentro de cada veículo trabalham duas pessoas? Você, hoje, deu bom dia ao motorista? Perguntou como vai o cobrador? A resposta positiva, ou pelo menos a conscientização dela, era o foco dessa matéria. Nada como abrandar a “selva de pedra” com um toque humano, uma gentileza, um sorriso. “E se aproximarmos usuários e profissionais do transporte público através de histórias?” Fechado! E vamos começar pelo assistente de bordo, ou cobrador para os mais íntimos.
Terça-feira, umas cinco horas da tarde, frio, um pôr-do-sol lindo, câmera, gravador e muito medo. Com esses ingredientes chegamos ao ponto final da linha para acompanhar uma viagem completa com nosso amigo da catraca. Mas será que pode? E se precisar de autorização? Vamos perder os pontos... Pior, vamos perder uma grande chance de fazer algo bacana. Foi aí que entrou o último ingrediente da nossa empreitada: a sorte.
De cara, fomos recebidos calorosamente por todos os trabalhadores do lugar, e, ao explicarmos o que fazíamos ali perdidos, fomos levados ao que os próprios colegas chamaram de “rapaz muito comunicativo”: Daniel Wallace. E ele topou a empreitada. Ufa! E para melhorar, a timidez perante tanta exposição repentina durou, no máximo, três minutos. Daniel é cobrador de ônibus por vocação. Era seu sonho de menino. Sete cursos técnicos na bagagem, mas a paixão mesmo é sentar no único banco lateral e macio daqueles carros. E como fala, e como conta! A comunicação pode suspirar entristecida: perdeu um grande profissional para as ruas e avenidas de Belo Horizonte.
Jamais imaginamos que um ônibus fosse um lugar tão divertido. A preocupação de chegar a tempo para a prova na faculdade, o aborrecimento no estágio, a falta de grana, às vezes podem nos cegar para tanta vida em volta. Os amores do motorista solteiro Arthur, o engraxate que dança como o Michael Jackson, os baleiros (sabiam que eles ganham cerca de 150 reais por dia?), o menino Breno sempre pronto para uma travessura... E o Pretão, que sempre troca uma garrafa de água por uma passagem? O ônibus é sim um organismo gigante!
Nunca vimos tanta pauta na nossa frente. E pautas interessantes, que estão fazendo falta no jornalismo. Pautas leves, com personagens reais, de gente que trabalha em silêncio, quase invisível, mas ficam satisfeitos demais ao verem seu trabalho reconhecido. Mas, no fundo, quem não fica?
Completamos uma viagem inteira, e, na volta desembarcamos na Antônio Carlos. Trocamos telefones e marcamos forró (o Daniel conhece Curvelo, acreditam?). Pisamos em terra firme satisfeitos com o êxito do trabalho. Mas tinha algo diferente...
Saudade? Mas como assim? Deu tempo?
Alegria sem uma explicação razoável?
Uma nova forma de enxergar a vida?
Sim. Tudo isso. Fomos atrás de uma entrevista com o trocador de um ônibus e redescobrimos a paixão pela vida e a motivação para se apaixonar todo dia pelo nosso trabalho. A verdade é que ainda não descemos daquele ônibus. Ficaremos sentados por lá um bom tempo ainda...
E, depois de escrever tudo isso, resolvemos mudar a pergunta chave desse exercício.
Qual de vocês tem como ambição o simples fato de ser feliz?
Tags:
Cometários
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