A real democracia do mundo virtual
Por Anderson Naupe
Uma nação democrática – de verdade – é o sonho de consumo (sic?) de grande parte dos filósofos políticos do mundo. Isso ocorre desde a época em que o termo foi se amadurecendo, após o derramamento de sangue francês no século XIII.
Ao esquecermos os valores de juízo que questionam a tecnologia e desenvolvimento aplicado em ciência política à qual estamos acostumados; ou seja, que nós, ocidentais, somos “desenvolvidos” por termos uma maioria de repúblicas adapatadas ao sistema democrático, podemos, enfim, afirmar que o mundo caminha para uma igualdade política na qual o regime de governo democrático é o ideal, ao menos para o acúmulo de capital (tema para outro discurso).
Mas para quê tais doces sendo passados em suas lábias?
Para discutirmos a opinião de alguns poucos que vão contra “toda” uma nação e, assim, mostram que aquela nação, na verdade não estava pensando como um corpo único. É o caso dos marcantes acontecimentos do Irã. Mahmoud Ahmadinejad, o presidente do país, detém os poderes da nação com mão de ferro. Por lá, protestos dificilmente viravam revoltas ou mesmo teriam conhecimento mundial pelo simples fato de as rédeas dos meios de comunicação estarem nas mãos de Ahmadinejad.
Mais uma vez, quem somos para determinar, com total clareza, qual a forma ideal de governo, um totalitário ou um democrático? Principalmente quando percebemos que o mundo não parece concordar com o desenvolvimento pregado pelos países desenvolvidos. Contudo atrocidades e violêcia fazem parte da natureza de uma pequena minoria. E, mesmo mexendo na gaveta de roupa íntima de países com tradições diferentes das nossas, afrontar protestantes com tiros no peito ainda (e tomara que continue assim) não é o correto. Um governo visa representar seu povo e não pode, em uma situação controlada, decidir resolver o problema partindo para o abate dos manifestantes.
Foi o que aconteceu com Neda, uma jovem iraniana que presenciava um protesto na capital do país, Teerã. Ela seria “apenas mais um dado estatístico” se a democracia não fosse indomável no ambiente virtual. E é aqui que está o pulo do gato dos oprimidos no contexto atual.
O último minuto de vida de Neda foi filmado pelo celular de um homem que, posteriormente (sem eu ter como afirmar todo o trâmite certeiro) foi entregue a um blogueiro. Este disponibilizou o vídeo na internet e nos gigantes da imprensa BBC e CNN e em pouco tempo o mundo ocidental e democrático pôde ver uma cena incomum.
Mas a reação mais importante veio daqueles que compartilhavam a mesma realidade. Cidadãos de outros países oprimidos por seus líderes e mesmo do Irã se surpreenderam com um poder ao qual haviam experimentado em raras e minguadas frações, a democracia. Infelizmente não aquela que deveriam ter por direito, mas uma que todos no mundo virtual têm. A ponta do iceberg da crise no oriente médio fez-se vista.
O reforço do poder da opinião e da informação de cada cidadão ganhou notariedade pelo seu conteúdo. Não estavam mais enclausuradas em redações vendidas ou censuradas, de jornalistas anti-éticos ou orgulhosos e, até mesmo, em mãos alguma!
O mundo ganhou redações de imprensa multimídia na mesma proporção em que nascem pessoas sobre ele. Não havia mais governos que conseguissem controlar a necessidade do povo se expressar, ou jornais capazes de estar onde TODO o lugar onde acontece (??) algum fato noticiável (até o noticiável perdeu status). A competição deixou de ser desleal para inexistir. Pelo contrário, apesar de ainda não saber lidar direito com isso, a imprensa deverá enxergar essa nova realidade como uma aliada.
Algumas mudanças já podem ser vistas. O recente terremoto que devastou a costa nordestina do japão e o tsunami resultante dele, que foi um pouco mais além no indicador destruição, já foi tratado pelos grupos de mídia de uma outra forma. Bastou se identificar o inimigo. Ele não é mais o cidadão brigando por audiência como se pensava.
O inimigo é a impotência que o veículo tem em estar em todos os locais; de cobrir todos os assuntos. O aliado é aquele público que agora se vê como co-autor. Se na TV, no impresso ou mesmo no rádio só a nata do que é enviado as redações “sai”; nos portais web tem espaço pra todo mundo. A regionalização possibilita a publicação em ferramentas da própria imprensa, como blogs. O twitter virou verdadeiro jornal de nicho (alimentado, em sua maioria, por jornalistas sem remuneração) e os sites de relacionamento se tornaram espaços para a discussão de temas profundos (mesmo que não o sejam para nós, às vezes). É a real democracia do mundo virtual.