
O Feitiço da Lua
O filme de Campanella seduz pelo humor ingênuo, mas eficiente
Por Leo Ribeiro - JRN7A
Terceiro filme de uma trilogia que começou em 1999 com O Mesmo Amor, a Mesma Chuva e teve continuidade com O Filho da Noiva, de 2001, O Clube da Lua conta a história de um decadente clube argentino e da luta de alguns poucos sócios para mate-lo aberto, em funcionamento. Multado pela prefeitura e sem muitas condições de sair do aperto econômico, o clube recebe uma proposta para se tornar um cassino, decisão que deverá ser tomada pelos últimos 62 sócios da agremiação. O filme se passa na província de Avellaneda, em meio a crise dos anos 90 da Argentina, e, paralelamente, narra as agruras de alguns personagens, encabeçados por Román Maldonado, interpretado pelo ator Ricardo Darín.
O Clube da Lua tem uma história central simples, carregada de uma ingenuidade socialista capaz de discutir o avanço do capitalismo. Além disso, suas outras narrativas, essencialmente dramáticas, que expõe toda a fragilidade da classe média argentina são apresentadas como uma novela. Mas, se de um lado temos a simplicidade e de outro, o drama novelesco, qual é a graça desse filme, qual é o seu feitiço? Pois a graça de O Clube da Lua, o que o diferencia, é justamente achar humor onde poucos achariam, é saber rir da dor, da dificuldade. Neste aspecto, fica evidente a condução do diretor Juan Jose Campanella, também roteirista do filme, que assume fazer desta obra um drama engraçado, leve, que dá seu recado a partir da ironia e do deboche.
Os diálogos de O Clube da Lua são sensacionais, marcantes e conduzem o espectador por um caminho agradável. Vale destacar também, obviamente, o desempenho dos atores, que sabem como passar de forma muito precisa as sensações dessa comédia dramática, permeada por situações embaraçosas e engraçadas. Em um desses grandes momentos no filme, por exemplo, o personagem interpretado por Darín sugere que sua esposa contraiu o vírus ebola, depois dela ter descrito para ele a tremedeira e o calor que sente quando está perto do amante.
Na realidade, esse tratamento bem humorado adotado por Campanella em O Clube da Lua não é novidade. Em O Filho da Noiva o diretor já havia feito isso, embora com menor efeito, uma vez que o enredo deste filme é menos dramático. Na história do clube decadente e nas suas outras narrativas, o humor aparece com muito mais destaque, visto que a melancolia e o sofrimento dos personagens principais funcionam como uma lupa para esse artifício.
Mas o Clube da Lua também tem seus momentos de poesia, quando a sensibilidade de Campanella ganha formas mais nobres, nos apresentando a grandeza ou as possibilidades do ser humano. Em um dessas belas cenas, Román Maldonado oferece a um dos mais velhos sócios do clube, que está moribundo no hospital, uma última visão da lua, que ele tanto queria ver. O detalhe da cena é que a lua mostrada era o resultado do efeito de uma luz de abajur atrás de um biombo.
Podcast leo ribeiro Clube da Lua by Jornalismo
Ficha Tecnica
Título: DVD Clube Da Lua
Título Original: Luna de Avellaneda
Ano de Produção: 2004
Áudio Original: Espanhol
Elenco: Ricardo Darin,Eduardo Blanco,Mercedes Morán
Direção: Juan José Campanella
Duração: 143 minutos
Faixa Etária: a partir de 14 anos
Curiosidades
Este é o 3º de 4 filmes em que o diretor Juan José Campanella e o ator Ricardo Darín trabalham juntos. Os demais foram Um Mesmo Amor, Uma Mesma Chuva (1999), O Filho da Noiva (2001) e O Segredo dos Seus Olhos (2009);
Premiações
GOYA
Indicação
Melhor Filme Estrangeiro em Espanhol
FESTIVAL DE VALLADOLID
Ganhou
Melhor Ator - Ricardo Darín
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