"Magnólia - um perfumado passeio pela alma humana"

25-10-2011 13:31

Minucioso jogo de estórias inusitadas compõe o enredo desse drama

Por Marcela Armond - JRM7

laemlondres@hotmail.com

Tramas paralelas entrelaçam-se e confundem-se no sombrio, mas iluminado enredo de “Magnólia” (Magnolia, 1999, Paul Thomas Anderson), que sedimentou a já aclamada trajetória do talentoso diretor Paul Thomas Anderson. “Boogie Nights”, produção anterior de Anderson, já se destacava como um esforço promissor mas, no entanto, foi considerada uma obra muito longa para os padrões de cinema atuais. Em “Magnólia”, o enredo se arrasta por ainda mais tempo: são quase três horas de filme. Todavia, o caleidoscópio de estórias comoventes e personagens brilhantes levam o espectador a um formoso passeio em sua alma ao deparar-se com dicotomias como dor e perdão; pecado e redenção; traição e recomeço.

A soma de um bom enredo a bons atores e diretor conduziu o longa ao sucesso de bilheteria e crítica. O elenco escalado para “Magnólia” é recheado de atores conhecidos pelo grande público como Tom Cruise (“Cocktail”, “Entrevista com Vampiro”, “Missão Impossível”) e Julianne Moore (“Hannibal”, “Nove Meses”, “Direito de Amar”), que não desapontam. Pelo seu papel em Magnólia, Cruise foi premiado com o Globo de Ouro como melhor ator coadjuvante.

Frank T.J. Mackey, personagem de Cruise vê-se, aos 14 anos, deixado pelo pai e sozinho, com a responsabilidade de cuidar da mãe enferma. A raiva, o medo e o sentimento de abandono tomam o jovem, levando-o à ruptura com o antigo eu e à construção de uma nova identidade: o de showman portador de um lema machista de dominação sexual. Assim como em “Beleza Americana”, contemporâneo de “Magnólia” dirigido pelo ex de Kate Winslet, o diretor Sam Mendes, os principais atores são confrontados pelo passado e levados a buscar refúgio em novos modos de vida.

A Los Angeles do roteiro de “Magnólia” fica longe da cidade famosa por suas praias e sol escaldante. Anderson plantou sobre a rua Magnolia, endereço comum de todos os personagens do filme, uma densa nuvem. Em certo ponto, a chuva comum dá lugar a uma surpreendente chuva de rãs que desce como um temporal de juízo divino. A praga assoladora, capaz de amolecer o coração de Faraó, como relatado no livro bíblico de Êxodo, amolece também as mentes obstinadas de um apresentador de game show, um guru do sexo, um policial, uma vítima de câncer, um enfermeiro e de Stanley, que estava prestes a se matar.

O estonteante épico de destino e coincidências fascina e confunde audiências. “Magnólia” é, certamente, um tipo de árvore com variadas formas de galhos crescendo em torno de ironias e lições de vida. Suas raízes, profundamente emaranhadas sob a terra, merecem reflexão e análise. Suas flores perfumam a indústria do cinema americano e decoram Hollywood para muito além dos caça níqueis produzidos em escala industrial.

CURIOSIDADES:

- A personagem “Claudia” foi a primeira a ser criada e todos os outros personagens são uma conseqüência dela.
- Quase todas as locações do filme apresentam um quadro ou uma foto da flor magnólia.
- O papel de “Frank T.J. Mackey” foi especialmente escrito para Tom Cruise.
- O filme faz várias referências ao número 82. Este número se refere a uma passagem da Bíblia, mais especificamente ao livro do Êxodo, 8:2.

FICHA TÉCNICA:

Título original: Magnolia

Gênero: Drama

Duração: 3 hr 8 min

Ano de lançamento: 1999

Site oficial: https://www.magnoliamovie.com

Estúdio: New Line Cinema

Distribuidora: New Line Cinema

Direção: Paul Thomas Andersom

Roteiro: Paul Thomas Anderson

Produção: Paul Thomas Anderson e Joanne Sellar

Música: Jon Brion, Fiona Apple e Aimee Mann